Jun'ichirō Tanizaki nasceu a 24 de Julho de 1886 vindo a falecer no dia 30 de Julho de 1965. é um dos maiores autores da literatura japonesa moderna .
A história parece simples e concentra-se em dois personagens que são um casal. O marido é um tímido professor universitário de meia-idade que não consegue satisfazer a sua mulher dez anos mais nova e de temperamento excessivo. A história é contada da maneira mais original e eficaz: cada elemento do casal redige às escondidas o seu próprio diário. Ocultam-no mutuamente mas ambos sabem que cada um lê secretamente o diário do outro. O livro constrói-se a partir dos fragmentos dos dois diários produzindo uma atmosfera íntima muito particular, partilhada pelo leitor ao seguir os pormenores psicológicos e os ardis que se cruzam e entretecem até à mortífera teia de paixão.
Jun'ichirō Tanizaki nasceu a 24 de Julho de 1886 vindo a falecer no dia 30 de Julho de 1965. é um dos maiores autores da literatura japonesa moderna . A Tanbiha, escola da qual participou, valorizava a “arte e beleza acima de tudo”, contra o objetivismo da época.
Membro de uma família de mercadores, Jun'ichirō Tanizaki nasceu no centro de Tóquio. Em sua juventude foi um admirador do mundo ocidental e das conquistas da modernidade, tendo vivido por um curto período em uma casa de estilo ocidental em Yokohama, subúrbio de Tóquio e lar de estrangeiros expatriados. Lá levou um estilo de vida boêmio. Em 1923, um forte terramoto e consequente destruição da sua casa, forçaram Tanizaki a se mudar para Ashiya, na região de Kyoto e Osaka, fornecendo cenários ao seu romance As irmãs Makioka. O centro dos seus interesses é a preservação da língua e da cultura tradicional do Japão. Tanizaki faleceu aos 79 anos, em 1965, um ano após ter sido o primeiro autor japonês eleito membro honorário da American Academy and Institute of Arts and Letters. Dentre suas principais obras estão Amor insensato (1924; Companhia das Letras, 2004), Voragem (1928; idem, 2001), Há quem prefira urtigas (1930; idem, 2003), A chave (1956; idem, 2000) e Diário de um velho louco (Estação Liberdade, 2002). É ainda autor do ensaio Elogio da Sombra. Tanizaki também traduziu para o japonês autores ocidentais, como Stendhal e Oscar Wilde.
Publicou pela primeira vez seus trabalhos em 1910 mas sua reputação só se tornou grandiosa quando se mudou para Kyoto, após o Grande terremoto de Kanto de 1923. A mudança de cidade alterou seu entusiasmo, pois neste novo contexto moderou seu amor pueril pelo Ocidente e a modernidade ao dar grande ênfase ao seu antigo interesse pela cultura japonesa tradicional, particularmente a cultura da região de Kansai, que envolve Osaka, Kobe e Kyoto. Essa mudança de atitude é indicada pela grande quantidade de traduções para o japonês moderno de clássicos como Genji Monogatari, conhecido também como “A história de Genji”, datado do décimo primeiro século. Também publicou neste período sua obra prima, Sasameyuki (literalmente “Neve Fina”, contém um fragmento do nome de uma das protagonistas, Yukiko), que recebeu o título em português de As irmãs Makioka; nele é narrada a história de quatro irmãs de uma tradicional mas decadente família de burguesa de Osaka. Apesar de suas primeiras novelas terem criado um rico panorama da Tóquio e da Osaka da década de vinte do século passado, nos anos trinta Tanizaki se desviou dos assuntos contemporâneos para escrever sobre o passado feudal do Japão, possivelmente uma reação à crescente militarização da sociedade e da política japonesas. Durante esse período obras suas foram consideradas inadequadas pelo regime. Após a Segunda Guerra Mundial Tanizaki novamente alcançou proeminência literária, obteve muitos prêmios e até sua morte foi considerado o maior autor vivo de seu país. A maioria de seus livros é altamente sensual, alguns centrados no erotismo. Em praticamente todos eles se destacam a agudeza de sua percepção e uma sofisticação irônica. Muito embora seja lembrado por suas novelas e contos, Tanizaki também escreveu poesia, drama e ensaio. Ele foi, acima de tudo, um magistral contador de histórias.
Destaco as obras seguinte:
A chave; A confissão impudica; Diário de um velho louco; A mãe do capitão Shigemoto; O cortador de canas; Alguns preferem urtigas; Elogio da sombra; Uma gata, um homem e duas mulheres.
A Confissão Impudica é o relato de uma relação amorosa extremamente complexa. O psicologismo, a elegância e a leveza da escrita fazem deste livro o melhor exemplo da obra de Tanizaki. A história parece simples e concentra-se em dois personagens que são um casal. O marido é um tímido professor universitário de meia-idade que não consegue satisfazer a sua mulher dez anos mais nova e de temperamento excessivo. Ambos dissimulam as relações mais íntimas de casal. Ele por introversão, ela porque, proveniente de uma velha família feudal, mantém uma máscara de pudor. A história é contada da maneira mais original e eficaz: cada elemento do casal redige às escondidas o seu próprio diário. Ocultam-no mutuamente mas ambos sabem que cada um lê secretamente o diário do outro. O livro constrói-se a partir dos fragmentos dos dois diários produzindo uma atmosfera íntima muito particular, partilhada pelo leitor ao seguir os pormenores psicológicos e os ardis que se cruzam e entretecem até à mortífera teia de paixão.
Kagi” é o título de um livro de Junichiro Tanizaki (1886-1965) editado em Portugal pela Assirio&Alvim com o título adaptado da tradução francesa “A confissão impudica”, em 1991 e editado pela Teorema em 2003 com um título mais próximo do nome original da obra que é Kagi, ou seja, traduzido mais literalmente por “A Chave”. Uma obra bastante emblemática de Tanizaki no sentido em que aborda temáticas tipicamente Tanizakianas (passe a expressão). Mas vamos fazer jus ao título do artigo (roubado à livre tradução da edição da Assírio) e sejamos impudicos porque este é um livro sobre sexo. Essencialmente sobre sexo e \ peculiar. Acontece que, de facto, a percepção nipónica ultra-fetichista e absurdamente fantasista sobre o sexo não se reflecte só no hentai ou nas ofertas de mercado sexual das zonas mais duvidosas de Shinjuku. Isto porque, estou convencido que qualquer manifestação de peculiaridade cultural tem que ter uma raiz justificativa. Na história do Japão, a sexualidade, que está presente nos valores ancestrais japoneses com bastante naturalidade – os símbolos fálicos presentes nos cultos xintoístas são disso exemplo – acaba por começar a assumir o seu estado pudico a partir da construção da sociedade feudal e da definição do papel da mulher na comunidade, acabando por dogmatizar a noção de pureza associada à preservação dos elementos encarados como sexualizantes na mulher, à semelhança do que aconteceu na nossa cultura de matriz cristã, ainda que estas não estivessem em contacto. Ao longo da história da humanidade as sociedades tenderam a organizar-se em torno de um sentido de “maternidade/pureza” associado ao papel da mulher na estrutura familiar e social. Diz a sabedoria popular que o fruto proibido é o mais desejado e sem dúvida que uma sacralização da sexualidade feminina, inalcançável e misteriosa, só pode resultar num manancial de frustrações mescladas com desejos que dão origem às mais obscuras fantasias.
A época feudal do período Edo é uma das principais épocas a ter uma influência considerável naquela que é a personalidade colectiva actual dos japoneses. É um período que se arrasta desde o séc. XV até 1868, altura em que o Japão se abre ao mundo, saído da sua idade das trevas e se moderniza. Tendo em conta este encadeamento de factores históricos, talvez tenhamos aqui a ponta de um iceberg de justificações múltiplas para certos elementos do imaginário sexual japonês que, como ocidentais, não conseguimos perceber muito bem de onde vêm. É neste contexto que se insere esta obra de Tanizaki.
A história, com algum sentido de minimalismo, concentra-se em duas personagens que formam um casal cujo casamento dura há cerca de três décadas. Cada elemento do casal possui um diário no qual decide confessar aquilo sobre o qual não dialoga mas que quer exprimir: os detalhes da sua vida sexual e pensamentos sobre o assunto. A história concentra-se bastante no marido e na sua busca desesperada por satisfazer apetites algo desmesurados da mulher. Acabando por condicionar a sua normal existência quotidiana com esta obsessão, recorrem os dois a métodos pouco ortodoxos onde um jogo tácito conduz a dúvidas, dilemas e traições. A forma como o estabelecimento da importância das perversões do casal têm repercussões no tecido familiar – com a intervenção da filha - é bastante particular na medida em que não somos, como ocidentais, um público habituado a este tipo de leitura circunstancial. Mas, efectivamente, o objectivo de Tanizaki é sempre extrapolar o campo da mera contemplação e verificar as consequências das impressões íntimas das personagens ao longo da sua vivência, numa perspectiva algo freudiana da existência.
Sabemos que Tanizaki como escritor sofreu de muitas influências de autores ocidentais, tendo uma particular paixão pelos boémios obscuros, Baudelaire, Poe, etc, sobretudo em trabalhos mais iniciais. Esta obra de 1956 surge num contexto pós-guerra rodeado das mais variadas reflexões sobre o estado identitário do Japão nos seus mais variados conflitos e esta abordagem à psicanálise das personagens é sem dúvida vanguardista e reflecte uma grande elegância e mestria no tratamento da mensagem a passar.