“Cabelos Brancos”, de Anne Kreamer Law Ka Wah

Editora e tradutora bilingue de um jornal, onde produz conteúdos jornalísticos em português. Licenciada em Tradução por uma universidade, destaca-se em entrevistas a figuras da comunidade e projectos editoriais. Nutre interesse pelo património cultural luso-macaense.

“Cabelos Brancos”, de Anne Kreamer

“Cabelos Brancos” é uma reflexão íntima e corajosa sobre a escolha de assumir a coloração natural aos 49 anos. Anne Kreamer desafia os padrões de juventude impostos às mulheres, explorando medos, pressões sociais e discriminação. Ao valorizar a autenticidade, revela como o envelhecimento pode ser vivido com elegância, liberdade e poder.

Há momentos em que as notícias virais dizem mais sobre nós do que desejaríamos admitir. A insistência dos media e das redes sociais no aspecto físico das figuras públicas volta a expor uma hierarquia tácita: a aparência como valor supremo, a idade como falha de manutenção. Sob a luz impiedosa dos ecrãs, o envelhecimento deixa de ser algo natural e passa a parecer um colapso. É nesse contexto que “Cabelos Brancos”, de Anne Kreamer, se revela de pertinência invulgar: um ensaio que, ao acompanhar a experiência de tantas mulheres, propõe uma viagem de autodescoberta com implicações sociais e políticas.

A questão “Continuo a pintar o cabelo?” começa a surgir diariamente, mas Kreamer transforma esta mesma questão em força onde a média, género, trabalho, desejo e auto-expressão todos se cruzam. A estratégia narrativa, confessional e quase diarística, assenta na primeira pessoa e num método de observação participante: a autora recolhe conversas, testa hipóteses, mede reacções. Ouve familiares e amigos, consulta cabeleireiros, entrevista actores e banqueiros. E, com pragmatismo de repórter, desenha experiências controladas: publica fotografias em sites de encontros com e sem coloração, observa a reacção do público em bares e avalia o impacto de pequenas alterações de tonalidade na forma como reparam nela.

Dessas experiências emerge uma dissociação persistente entre crença declarada e conduta social. Muitos homens juram indiferença à coloração; contudo, o olhar colectivo continua submetido a códigos cromáticos que moldam expectativas. O que está em causa não são apenas preferências íntimas, mas protocolos de visibilidade que organizam o espaço público. A cor do cabelo funciona como legenda silenciosa: antecipa idade, sugere energia, codifica estatuto. Num ambiente profissional competitivo, o grisalho pode ser lido como perda de dinamismo; na indústria do entretenimento, traduz-se frequentemente em perda de papéis; na política, associa-se a erosões subtis de apoio.

A indústria cosmética cristaliza e rentabiliza este regime visual: pela publicidade, vende padrões inatingíveis, acena com juventude perpétua e converte a manutenção da imagem num projecto interminável. Resultado: tempo e dinheiro dispendidos em colorações e os cuidados capilares disparam. Esta ansiedade, observa Kreamer, democratizou‑se — também muitos homens receiam que os cabelos brancos denunciem a passagem do tempo. Importa ainda o trabalho: sectores penalizam o grisalho, ligando a “energia” à aparência, o que distorce avaliações de mérito e condiciona carreiras. Deixa, assim, de ser capricho individual para se revelar como interiorização de um poder mediático estranho dos hábitos culturais. Eis o ponto central: os media moldam percepções, fixam normas de “juventude” e monetizam a insegurança. Reconhecer esse circuito — produção, desejo, consumo — permite recentrar as escolhas pessoais, com critério e sem culpa, deslocando o foco da conformidade para a agência.

O mérito de Kreamer está em recusar o sermão. Recusando pintar o cabelo, não escreve um panfleto pró‑grisalho. Prefere compor um mosaico de vozes dissonantes: mulheres que valorizam a cor artificial, homens que proclamam indiferença, amigas que assumem o branco como gesto político. Nesse quadro, a estética aparece como ética quotidiana; a política do cabelo, como micro‑política do corpo. Kreamer suspende o veredicto e confirma a vocação do livro: uma exploração compreensiva, não um tribunal de doutrina.

A escrita é animada, o raciocínio organizado, e o debate assenta firmemente em experiências concretas. O leitor reconhece-se, mesmo quando discorda e é essa, talvez, a marca do bom ensaio: não produzir consenso, mas afinar o discernimento. A autora admite, de forma franca, que pintar o cabelo constituiu, durante anos, uma modalidade de auto-expressão pessoal. Quando decide largar a coloração, não capitula: escolhe. Neste gesto, esclarece o ponto central: a liberdade não reside no objecto — a tinta —, mas na consciência de quem decide usá-la ou não.

Importa notar a actualidade do diagnóstico. Embora publicado em 2008, o livro possui uma acuidade que o tempo reforçou. Kreamer percebeu cedo uma inflexão cultural: mais mulheres a aceitarem o branco, e mais debates públicos sobre envelhecer com graça. “Será o grisalho o novo preto?”, pergunta a autora. A questão não aponta para uma moda, mas para a redefinição do valor social da idade: uma revisão de critérios de autoridade, atractividade e credibilidade, até então capturados por uma tirania do novo.

No plano formal, “Cabelos Brancos” articula, com rara eficácia, três níveis que raramente se combinam sem fricção: a concretude antropológica do quotidiano; a análise dos dispositivos culturais que nos moldam; e a coragem narrativa de expor hesitações. As quase experiências sociológicas — perfil experimental em plataformas de encontros, entrevistas cruzadas, observação de terreno — funcionam como ensaio geral do nosso próprio teatro de escolhas.

Kreamer não abdica de um olhar crítico sobre a indústria da beleza — esse sector que fabrica carências e vende os respectivos antídotos —, mas limita-se a informar sem doutrinar, a convocar à reflexão sem impor amarras. Tem plena consciência de que a decisão de pintar ou não o cabelo depende de capitais estéticos, de percursos de autoconfiança e da hostilidade ou abertura do contexto profissional. O seu convite não é à renúncia, mas à lucidez: conhecer as redes de poder, ponderar vantagens e constrangimentos, e, na medida do possível, recuperar a autonomia sobre si mesma.

Num mundo atravessado por guerras, terrorismo, doença, desigualdade e uma crise climática cada vez mais palpável, seria fácil classificar a cor do cabelo como assunto frívolo. Contudo, a autora argumenta: o carácter de cada pessoa é resultado de centenas de escolhas vulgares e mundanas, e o progresso social e cultural é resultado acumulado de biliões de pequenas escolhas. “Se cada um nós tentar dizer a pura verdade em pequenas coisas, então talvez nós, enquanto sociedade e cultura, percebamos que é mais fácil começar a reconhecer e a premiar a verdade de formas mais significativas…Pintar ou não pintar? Eis a questão.”

A citação funciona menos como epílogo do dilema estético e mais como método de convivência com a própria imagem. A honestidade diária, exercida em escolhas aparentemente menores, acumula-se em cultura. Kreamer não prescreve um caminho único: propõe que a decisão — pintar, não pintar, alternar, experimentar — seja tomada com consciência das pressões económicas, simbólicas e afectivas em jogo. Assim, o gesto íntimo ganha dimensão pública sem se converter em dogma. A estética torna-se lugar de exercício ético: lugar de possível liberdade, não de culpa programada.

Como conclusão, “Cabelos Brancos” lembra-nos de que a idade não é defeito, mas dado; que a aparência é linguagem, mas não sentença; e que a autonomia, longe de ser slogan, exige trabalho de análise e coragem de escolha. Entre a obediência ao espelho e o desleixo militante, Kreamer recorda-nos uma terceira via: a do cuidado lúcido. Nela cabem o branco assumido, a coloração estratégica, a pausa para experimentar, o retorno se assim fizer sentido. O que importa é a autoria do gesto. O livro cumpre, afinal, o que promete: não nos diz como ficar mais jovens; ensina-nos a envelhecer com linguagem — isto é, com sentido. É talvez aí que começa a verdade: na escolha consciente do tom com que decidimos apresentar-nos ao mundo, sabendo que nenhuma cor nos define inteiramente, mas todas podem, se bem escolhidas, devolver-nos ao espelho com menos ruído e mais respeito por quem somos.

“Cabelos brancos: o que eu aprendi sobre beleza, sexualidade, trabalho, família, autenticidade e tudo o que realmente importa”

▸ “Cabelos brancos: o que eu aprendi sobre beleza, sexualidade, trabalho, família, autenticidade e tudo o que realmente importa”

Autor:Anne Kreamer

Tradutor:Pedro Vidal

Editora:Pedro Vidal

Data de Publicação:2007

A Survival Guide for Your Daily Life Victoria Man

A Macao writer and media professional working across multiple languages. She has contributed to magazines, film scripts, and collaborated on cultural festivals and exhibitions, showcasing diverse cultural production.

A Survival Guide for Your Daily Life

Picture this: In the span of a single week, you lose your job, your marriage is falling apart, and even your car gets a flat tire. You feel like the unluckiest person alive. Now what? No worries—it’s not the end; it could be the beginning of real growth. Jon Gordon’s The Energy Bus is a roadmap for turning life’s toughest detours into a purposeful, joyful journey.

This isn’t a dense self-help manual filled with jargon. Instead, Gordon delivers ten simple, powerful rules through a light, almost children’s‑book‑style story. It’s easy to read, but it tackles deeply human struggles, strained relationships, low performance, fear of competition, and self-doubt.

The story follows George, a middle-aged man whose life is falling apart. His negativity is poisoning his marriage, his team, and his own sense of self. Then his car breaks down, forcing him onto a bus driven by Joy—a woman whose name matches her outlook. Along with her passengers, Joy teaches George ten rules that help him reclaim his vision, rebuild his relationships, and rediscover his purpose.

It all begins with a memorable metaphor about the positive dog:

“I feel like there there are two dogs inside me. One dog is this positive, loving …. , and then I have this angry, …, negative dog and they fight all the time.” The wise man says, “I know which is going to win. The one you feed the most, so feed the positive dog.”

The Law of Attraction, Made Practical

The book ties beautifully into the Law of Attraction: when your emotions and energy shift, your actions, decisions, and attitude follow, and you begin to attract what you focus on.

A positive mindset isn’t just a “feel-good” accessory, it’s a force that shapes your reality. But here’s the challenge: while the principle sounds simple, living it day in and day out is far from easy. Most of us spend more mental energy worrying about deadlines, bills, and the economy than we do appreciating the love we already have, the health we own, or the fresh air we breathe.

That’s why Gordon’s first two rules land like a wake-up call:

Rule No. 1: You are the driver of your bus.
Rule No. 2: Desire, vision, and focus move your bus in the right direction.

These aren’t just catchy slogans, they’re a direct challenge to take ownership of your life. Many of us feel “not enough” not because we lack talent or potential, but because we’ve never clearly defined our vision, purpose, and values. When we drift without direction, negativity takes the wheel, steering us toward jealousy, fear, and poor decisions.

But once you know where you’re going, everything changes. The outside noise loses its grip. Negativity fades into background static instead of becoming a roadblock. You start making choices that align with your goals, and your energy becomes so strong and certain that the right people, opportunities, and experiences can’t help but be drawn to you. And that’s the beauty of this book—it doesn’t just tell you to “think positive,” it shows you how to steer your own bus with clarity, conviction, and energy.

My Favorite Rules

Rule No. 6: No Energy Vampires Allowed on Your Bus

This rule is as much about courage as it is about positivity. Since childhood, I’ve always dreaded upsetting others because I hate conflict. For years, I believed that if I was nice enough, I could avoid making enemies. But life taught me otherwise: some people will drain your energy no matter how kind you are. Some are simply negative, and their presence can poison your mindset.

George, the main character, struggles with this too. A few team members don’t respect him and refuse to support him. Before reading this book, I would have done exactly what George did at first: ignore them, hoping the problem would fade. I certainly wouldn’t have had the courage to confront them, let alone remove them from my “bus.”

But Joy, the bus driver, shares a powerful truth:

“Your positive energy and vision must be greater than anyone’s and everyone’s negativity. Your certainty must be greater than everyone’s doubt.”

It’s not enough to ignore energy vampires, you must face them, protect your space, and refuse to let their negativity steer your journey. This rule gave me the confidence to stop tiptoeing around conflict, to trust myself, and to guard my energy fiercely.

 

Rule No. 8: Love Your Passengers

In recent years, many people have begun to worry that AI will one day take away our jobs. As a writer, I share this concern. But when we think more deeply, every risk also carries opportunity. In the future, perhaps all jobs that don’t require personal connection, emotional intelligence, or a human heart could be replaced by AI. And if that happens, love, positivity, and the human spirit will become even more valuable.

In truth, they have always been important, however, in today’s competitive and often superficial society, people tend to forget. Leadership, for example, is too often mistaken for control or authority. That’s why I’m grateful that Gordon turns this idea upside down—reminding us that love is not weakness, but the most powerful force we have. In the story, love quite literally saves George’s work presentation.

One of the passengers, Marty, puts it perfectly:

“People think love is a weak emotion, but really it’s the strongest, most powerful emotion available to us. Just try to bench press a lot of weight—if you’re thinking loving, positive thoughts, you’ll be stronger than if you’re thinking negative, angry thoughts.”

In the novel, love isn’t just a feel-good concept, it’s a practical tool that changes outcomes. For leaders, it’s a reminder that if you want long-term success, lead with heart. Love builds trust, inspires loyalty, and fuels the kind of teamwork that can weather any storm.

Why You Should Read It

The Energy Bus isn’t just a book—it’s a lifeline disguised as a simple story. It reminds us that even in our darkest moments, we still hold the power to choose positivity, rebuild our lives, and thrive. This isn’t a dense philosophy text or a lecture on self-help, it’s a warm, relatable journey filled with practical steps you can actually use. The magic lies in its heart: a wise mentor, a supportive community, and a clear, hopeful path forward.

If you’re struggling today, start small. Step outside and breathe in fresh air. Call someone who cares about you. If you don’t have that person right now, seek out a community that fits you—a local group, a church, a hobby club, or even a helpline. There is always a seat for you somewhere.

This book isn’t only for those battling depression or loneliness, it’s for anyone who dreams of a better world. It’s for leaders who want to inspire, for friends who want to support, and for individuals who want to live with more joy and purpose. It’s a reminder that while we can’t control who gets on our bus, we can control how we drive it.

Challenges won’t disappear, but your strength to face them will grow. You’ll see that you can make it—because you’ve already started.

Peace and love.

The energy bus : 10 rules to fuel your life, work, and team with positive energy

▸ The energy bus : 10 rules to fuel your life, work, and team with positive energy

Autor:Gordon Jon

Editora:John Wiley & Sons, Inc.

Data de Publicação:2007