Resumo e Análise da Obra Carmen

Professora, participou na redacção e publicação de estudos comparativos sobre as línguas portuguesa e chinesa. O seu trabalho final de mestrado, actualmente arquivado na Biblioteca da Universidade de Macau, centra-se nas traduções portuguesas da literatura clássica chinesa.

Resumo e Análise da Obra

O Alienista é uma obra de Machado de Assis que explora temas profundos e complexos, como poder, ciência, sociedade e moralidade. A narrativa utiliza humor e ironia para provocar reflexões sobre os limites da razão e as consequências da sua aplicação desmedida, revelando como a busca por certezas absolutas pode levar à desumanização. Assis, com a sua caracterização habilidosa dos personagens, não apenas constrói uma crítica à medicina e à ciência, mas também desafia as ideias sobre a normalidade e a moralidade dentro de uma sociedade que se deixa levar por normas rígidas. Ao explorar as falhas e os abusos de poder que podem surgir quando a razão é desacompanhada de ética e empatia, a obra convida-nos a questionar as convenções sociais e os valores que sustentam as estruturas de poder.

 

A história desenrola-se em Itaguaí, uma pequena cidade onde reside Simão Bacamarte, um médico de prestígio que, depois de concluir os seus estudos nas mais renomadas universidades europeias, retorna ao Brasil decidido a dedicar-se integralmente à ciência. Com uma forte inclinação para a psiquiatria, ele considera a saúde mental um pilar essencial para o bem-estar humano. Movido por esse ideal, Bacamarte persuade as autoridades locais a construir a Casa Verde, a primeira instituição da região voltada para o tratamento de pessoas com distúrbios mentais. Apesar de apresentar o projecto como um acto de compaixão, oferecendo refúgio a indivíduos marginalizados e sem assistência, logo fica evidente que a sua principal motivação é científica. A Casa Verde transforma-se num espaço onde ele pode conduzir estudos aprofundados sobre os diferentes aspectos da loucura, buscando classificá-la e compreendê-la em toda a sua complexidade.

No início, Bacamarte estabelece um critério rigoroso para a definição da "loucura", mas à medida que o tempo passa, a sua definição torna-se cada vez mais ampla e sem critérios claros. Ele começa a internar pessoas por motivos banais e muitas vezes irracionais. Entre os internos estão homens como o sapateiro que adorava a sua casa ou o homem que demonstrava generosidade, mas que, segundo Bacamarte, não se ajustavam ao "equilíbrio perfeito" da mente humana. Essa expansão arbitrária da definição de loucura acaba por gerar uma sensação de insegurança entre os cidadãos de Itaguaí, que passam a temer pela própria sanidade, já que qualquer um poderia ser considerado louco e ser internado.

A situação vai-se agravando quando Bacamarte decide internar a sua própria esposa, Dona Evarista, por causa da sua indecisão ao escolher entre dois colares. Essa decisão absurda, que mostra a total ausência de critério lógico, revela como Bacamarte está cada vez mais perdido na sua busca pela perfeição e pela ordem mental. Nesse ponto, a crítica à ciência, que deveria promover a cura e o bem-estar, torna-se clara. O que Bacamarte está a fazer não é ciência, mas um exercício de poder e controlo, justificando as suas acções com a autoridade do conhecimento.

Com o crescimento das arbitrariedades de Bacamarte, a população começa a resistir-lhe e surge um movimento de oposição, liderado por um barbeiro, que organiza uma revolta contra a autoridade do médico. Esse movimento é inicialmente visto como uma luta pela liberdade e contra o abuso de poder, mas logo a resistência também revela os seus próprios defeitos, pois, ao tentar derrubar Bacamarte, começa a adoptar métodos igualmente autoritários e violentos. Quando a revolta é reprimida, Bacamarte aumenta ainda mais a sua repressão, classificando os rebeldes como loucos, o que reforça a ideia de que o poder pode ser distorcido e utilizado para justificar qualquer tipo de abuso.

O clímax da história acontece quando Bacamarte, depois de reflectir sobre a sua própria obsessão e perceber que ele é o único realmente incapaz de viver em harmonia com os outros, decide internar-se na Casa Verde. Esse gesto de auto-análise culmina na sua morte após 17 meses de observação de si mesmo, simbolizando o fracasso total da sua busca pela perfeição. A história termina com um tom irónico, mostrando como, ao tentar controlar e melhorar a sociedade, Bacamarte se torna vítima da sua própria obsessão, perdendo o contacto com a realidade e com os valores humanos fundamentais.

Além de criticar a ciência e o abuso de poder, a obra levanta importantes questões sobre a natureza da normalidade e da moralidade, questionando como as normas sociais são construídas e impostas. Ao longo da história, Machado de Assis oferece uma reflexão sobre a fragilidade da razão humana e como ela pode ser manipulada por aqueles que detêm o poder.

Principal alvo de repressão, a sociedade de Itaguaí, ao validar e aceitar as acções de Bacamarte, é cúmplice do abuso de poder. A passividade dos cidadãos diante da imposição de uma definição única de normalidade reflecte a crítica de Machado à conformidade social e à incapacidade da população de se rebelar contra a tirania intelectual. Esse cenário levanta a questão sobre até que ponto a sociedade é responsável por permitir que tais sistemas opressivos se perpetuem.

O desfecho trágico, no qual Bacamarte se interna na Casa Verde depois de perceber que a sua busca pela perfeição o tornou o único verdadeiramente louco, conclui a narrativa de maneira irónica, reforçando a crítica à obsessão pelo ideal. A morte de Bacamarte após 17 meses de auto-análise representa o fracasso da sua missão e simboliza a futilidade da busca pela perfeição absoluta. A sua conclusão de que a perfeição não é um objectivo alcançável, mas sim uma armadilha que leva à solidão e ao fracasso, oferece uma lição profunda sobre os perigos de tentar forçar um modelo rígido e uniforme sobre a sociedade.

Além de ser uma crítica à ciência desumanizada, O Alienista também reflecte sobre os efeitos da concentração de poder nas mãos de um único indivíduo ou grupo. A obra de Machado de Assis faz-nos reflectir sobre o impacto da autoridade científica e a maneira como o conhecimento pode ser utilizado para manipular e controlar as pessoas, em vez de servir o progresso e o bem-estar da sociedade. A obra mantém-se extremamente relevante em contextos contemporâneos, onde questões sobre a ética na ciência, o abuso de poder e o conformismo social continuam a ser temas centrais de debate.

No fim, O Alienista é uma obra que vai além de uma crítica à medicina e à ciência do século XIX, oferecendo uma reflexão sobre o comportamento humano, a moralidade, o poder e a sociedade. Através de uma narrativa que combina humor e tragédia, Machado de Assis alerta-nos para os perigos da busca desenfreada pela perfeição e para as consequências da concentração de poder nas mãos de poucos. Ele faz-nos reflectir sobre o que significa ser “normal” e como, muitas vezes, os esforços para alcançar a ordem podem gerar o caos. O conto é, portanto, uma poderosa crítica à sociedade e aos mecanismos de poder, que nos convida a questionar as nossas próprias concepções de moralidade, normalidade e autoridade.

O Alienista

▸ O Alienista

Autor:Machado de Assis

Editora:Guerra & Paz

Data de Publicação:2018

Philosophy for Beginners: A Gateway to Thoughtful Exploration for All Ages William Chan

PhD student in the Department of Philosophy and Religious Studies; journalist in Macau.

Philosophy for Beginners: A Gateway to Thoughtful Exploration for All Ages

The title "Philosophy for Beginners" is almost synonymous with "Philosophy for (nearly) everyone." Given the vast depth and wide range of philosophical thought across continents and cultures, it is an endless journey to not only understand but merely become acquainted with the various topics in this field. This challenge is further compounded by the growing prevalence of AI, which is raising more philosophical concerns and debates.

 

Philosophy for Beginners is a delightful book that opens the door to a vast array of Western philosophical ideas and topics, making it accessible and engaging for those new to the subject. When I discovered it in the children's section of the Bairro da Ilha Verde Library, I realised that its charming illustrations and delightful drawings make it an excellent resource for readers of all ages. The book is suitable for both parents and kids, presenting contemporary philosophical issues that provide an opportunity for families to embark on a philosophical journey together. Additionally, the inclusion of an index, which is uncommon for children's books, allows readers to easily explore and grasp the key terms presented. These thoughtful features help children cultivate a sense of what academic writing is and the usefulness of the index.

In less than 125 pages, the book covers a range of topics, from central philosophical themes like epistemology (knowledge), the mind, religion, and moral ethics, to more interdisciplinary subjects such as aesthetics and politics. The book itself is barely scratching the surface of these vast and complex themes, which is understandable for an introductory text. Philosophers today, despite their expertise, often preface their work with the caveat that it is an introduction to the topic, given the grand history and ever-expanding nature of the field.

In terms of content, Philosophy for Beginners introduces the fundamental questions that philosophers encourage us to ponder in our day-to-day lives. The initial pages are brimming with such inquiries, presented in a relatable manner, such as "Should I take a happiness pill if it were available?" and "How can I be certain that the sun will rise tomorrow?" When discussing philosophical topics with friends or acquaintances over dinner, I often found that many perceived philosophies as an overly intellectual and complex discourse centered on reality or religion, which, while true in academic circles, overlooks the more accessible approaches to philosophy.

These thought-provoking questions, despite their apparent simplicity, offer a window into the philosophical issues that the book will delve into in subsequent chapters. By capturing immediate attention, they appeal to those who may have shied away from the subject due to its stereotypically "profound" connotations.

However, a minor criticism of this book is that it focuses solely on Western philosophy, omitting perspectives from other philosophical traditions around the world. The "philosophical inquiries" method that originates from Ancient Greece, with its emphasis on logical and deductive reasoning, is a distinctly Western approach, and the rest of the book follows this path. Other cultures, such as in China, have developed alternative philosophical frameworks that are not represented in this book. This oversight may lead readers to erroneously believe that Western philosophy, as depicted in the book, represents the sole embodiment of philosophical inquiry, disregarding the richness and diversity present in alternative philosophical traditions.

To enhance its appeal and engagement, Philosophy for Beginners could benefit from an infusion of more contemporary topics and a broader, more inclusive perspective that encompasses diverse philosophical traditions beyond the Western canon. Including topics like the impact of social media and artificial intelligence would resonate with readers exploring relevant and modern philosophical questions. Additionally, incorporating perspectives from non-Western philosophies, such as Eastern traditions, could provide a richer and more diverse understanding of global philosophical thought.

The book's presentation of knowledge follows a more linear, encyclopedic fashion. In a world where dynamic and engaging formats are becoming the norm, the book might benefit from adopting a more circular and interconnected approach to presenting ideas, rather than adhering strictly to a linear, encyclopedic style. I believe that philosophical concepts can truly flourish when presented in dynamic and captivating formats, such as philosophical dialogues in podcasts, Socratic exchanges, or the structured elegance of works like the Confucian Analects (Lunyu). This could create a more engaging and memorable experience for readers, allowing them to draw connections between different concepts and explore their interests further.

Nevertheless, a linear approach does have its own strength. It allows strategic readers to select their topics in clear-cut chapters. As a scholar myself, Philosophy for Beginners definitely feel convenient to navigate different topics within the numerous chapters. In some sections, the book offers a list of recommended readings and resources that enrich the experience by guiding readers toward a deeper exploration of the subjects that intrigue them most. Particularly when addressing complex concepts such as the "ontological argument," "qualitative identity," and "continuity of consciousness," the challenge for contemporary readers lies not in the scarcity of resources but in identifying the most suitable ones.

Despite minor areas for improvement, Philosophy for Beginners remains an excellent starting point for those new to the field, providing an accessible entry into philosophical inquiry. I consider it one of my go-to books for an introduction, and I wish I’d encountered it in the early years of my philosophical journey. While the subject matter is advanced for a children’s book, its illustrations and presentation can spark meaningful discussions between parents and children, making it ideal for family exploration of philosophical ideas. By adopting a broader approach and a more dynamic presentation, the book has the potential to inspire and engage an even larger audience in the captivating journey of philosophy, making it a valuable addition to the local library.

Philosophy for beginners

▸ Philosophy for beginners

Autor:Jordan Akpojaro

Editora:Usborne Publishing Ltd.

Data de Publicação:2020