RECURSO - Distância entre a vida e a morte

TEXTO_Cheryl Iao/Pheobe Ho
FOTOGRAFIAS_Cheryl Iao/Pheobe Ho
ILUSTRADORA_Lao On On

A sociedade chinesa é conservadora sobre a questão da vida e da morte, que é considerada como um tabu. Vivendo em uma era de paz, a morte parece estar tão longe da vida, mas a morte é a última estação no caminho da vida, deve-se sempre enfrentar.O tema desta edição é a educação para a vida e a morte, e trazemos aos leitores uma série de obras relacionadas. Através das experiências e pensamentos em escrita, para que saibam que a vida de um ser humano vai acabar em pó,  tenham mais conhecimento da morte e da vida e vivam o momento presente.

O nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte são partes do ciclo de vida. Não importa quem seja, sempre tem de enfrentar o falecimento de seus parentes e amantes. Embora a dor dos vivos seja longa, não é algo que se cura num dia. Quando a artista de Macau Mika Lee soube que a sua avó estava doente, deixou o emprego resolutamente, assumiu a responsabilidade de cuidá-la a tempo inteiro e acompanhava ao lado da avó na última viagem da sua vida. Depois disso, ela escreveu a sua própria experiência em um livro Gung Lou, promovendo a “vida sem arrependimentos”.

Gung Lou não é apenas para registar a história minha e da minha avó, mas também para partilhar, através da minha história, as coisas que o público pode ignorar, e é difícil explicar e fazer perguntas, e esses são os tópicos sobre a vida e a morte. Espero que Gung Lou possa ser um livro de referência, e permitir que as pessoas com a mesma experiência possam encontrar conforto e ajuda no livro. Gung Lou registou a experiência de cuidar de familiar com câncer em fase terminal, na perspectiva de uma cuidadora a tempo inteiro. Através de três grandes temas: câncer e tratamento médico, cuidador e morte, traz à frente o tema sobre a vida e a morte, que deve ser enfrentado na vida, e permite que todos valorizem o tempo com os familiares e não tenham nenhum arrependimento.

Mika Lee acredita que todos precisam de aprender o tema sobre a vida e a morte. “Embora não saibamos o que virá primeiro, o amanhã ou a morte, podemos fazer preparações em pensamento e em acção activamente. Mesmo que não haja um moribundo na família, devemos saber que todos vão morrer, só não sabemos se é tarde ou cedo. Macau é relativamente conservador e sempre evita falar em morte, mas caso eu morrer um dia, como deve ser distribuída a minha herança? Como deve preparar o meu funeral? E ninguém sabe o meu último desejo, este será o meu arrependimento. Portanto, agora se eu praticar desporto radicais ou fazer uma viagem, direi à minha família como lidar com os meus “assuntos após a morte” em caso de algum acidente.” Mika Lee lembrou que ela tinha evitado falar sobre a morte, mas no processo de acompanhar a avó, ela começou a pensar no significado da vida e da morte, a partir da luta, calma à recpeção, virando dor em nutrição, e então valorizando o momento. Ela disse no final que “valorizar o momento” é a lição profunda e importante que a vida e a morte nos ensina.

Mika Lee encoraja todos a valorizar tudo o que possui e cuidar das pessoas ao redor, através de registar os momentos com a sua avó.

Clark Cheung, que trabalhou como treinador de fitness e actor de teatro há muitos anos, nunca pensou que teria câncer antes dos 33 anos, e muito menos o câncer já entrou na quarta fase quando ele soube da doença. Face a esta má notícia repentina, inicialmente, ele queria desistir do tratamento, mas depois descobriu que era apenas um acto de falta de vontade de enfrentar medos, e também ignorou as pessoas que se importavam com ele e o amavam. “É fácil desistir, basta dizer não, mas a persistência é difícil.” Nesta luta contra o câncer, Clark Cheung escolheu enfrentá-lo com uma atitude optimista, e considerou todas as dificuldades encontradas no processo como “treinamento de musculação de alta intensidade ” e incitou-se a perseverar.

De facto, embora Macau possua um sistema médico relativamente mais completo para proporcionar um tratamento adequado aos doentes, os serviços de aconselhamento psicológico ainda são insuficientes para os doentes durante o processo de tratamento. “À medida que as pessoas envelhecem, encontrarão cada vez mais tópicos sobre a morte. Este ano, as pessoas ao meu redor faleceram uma após a outra. Naquela altura, eu ainda estava no processo de quimioterapia, estava muito emocionado e sempre chorei.”

A morte é um tema inevitável no caminho da vida, e também é algo que as pessoas têm medo de enfrentar. Por isso, Clark Cheung espera usar a sua voz e força para ajudar mais pessoas que estão na mesma situação, e incentivá-las a enfrentar com coragem. A “mentalidade” é provavelmente a questão mais urgente enfrentada por pacientes com doenças graves, dado que enfrentar a doença com uma atitude positiva geralmente pode facilitar o tratamento e promover a recuperação.”

Clark Cheung não apenas escolheu enfrentar directamente a doença e as dificuldades, mas também aproveitou a sua própria força e uma imagem positiva e optimista no período de tratamento para injectar energia positiva na sociedade. Posteriormente, ele foi convidado para dar palestras de partilha sobre “Derrotas” e “Vida e Morte”. “Ainda me lembro de quando fui convidado pela primeira vez numa palestra, ainda estava em gotejamento. Os universitários presenciais viram e disseram que a confusão da vida e a pressão de graduação não eram mais problemas. Também conversei com alguns pacientes com câncer e consegui orientá-los para o tratamento no processo, e estou orgulhoso disso.”

Clark Cheung deseja quebrar o estereótipo de pacientes com doenças graves, para lhes prestar mais apoio espiritual

Com o progresso trazido pela nova era, as pessoas tornam-se gradualmente mais abertos aos tópicos sobre a vida e a morte, e algumas pessoas trabalham arduamente neste deserto para ensinar aos alunos de Macau esta lição de vida e morte. Em 2013, o Instituto de Enfermagem Kiang Wu lançou, pela primeira vez, um curso sistemático de educação para a vida e a morte, e a Dra.Zhu Ming Xia do mesmo Instituto tornou-se a primeira professora responsável pelo curso. Ela acredita que, em comparação com as regiões chinesas vizinhas, a educação para a vida e a morte em Macau começou mais tarde, não apenas não há um sistema científico sistemático, mas também falta de livros didáticos locais sobre o mesmo tema. Atendendo ainda a que, neste contexto, Zhu Ming Xia decidiu publicar o livro Love Life Love Action para introduzir o tema de morte por diferentes ângulos.

O curso de educação para a vida e a morte inclui o ensino do conceito de morte e questões afins, discussão e partilha em grupo, e actividades de “experiência da morte”. As actividades pedagógicas diversificadas permitem que os alunos pensem e construam a compreensão da vida e da morte, a partir das suas próprias experiências. Zhu Ming Xia partilhou: “Pedi aos alunos na aula que imaginassem a morte e a cena de preparação do funeral, e eles riram e imaginaram: ‘Queria enterrada com um vestido de noiva, ou na floresta, ou em viajar ...’ Em seguida, eu perguntei o que fazer depois? Quem vai ajudar com os ‘assuntos após a morte’? Então eles continuaram a pensar em como se preparar mais e melhor. ”

Até hoje, o desenvolvimento da educação para a vida e a morte em Macau está a avançar. Zhu Ming Xia manifestou que nesta fase, além da integração de ensino, investigação científica e serviços sociais pelo Instituto de Enfermagem Kiang Wu, as instituições de ensino superior de Macau também têm realizado seminários e palestras relacionadas com a educação para a vida e a morte; além disso, há uma discussão animada sobre a legislação de “diretrizes médicas antecipadas” na sociedade. As “diretrizes médicas antecipadas” significam que os pacientes têm o direito de decidir medidas médicas por meio de documentos escritos em estado consciente e informado, e que têm efeito legal. “Nas regiões vizinhas, como Taiwan promulgou legislação em 2016. Embora Hong Kong não tenha legislação, a Autoridade Hospitalar possui regulamentos relevantes, e actualmente não existe isso Macau. Portanto, além de estabelecer uma visão pessoal correcta da vida e da morte, a educação para a vida e a morte também desempenha um papel fundamental para promover a legislação de ‘diretrizes médicas antecipadas’.”

Dra. Zhu Ming Xia dedica-se com todos os esforços na promoção da educação sobre a vida e a morte em Macau, e espera estabelecer no futuro um pavilhão de experiências de vida para a melhor promoção pública.