RECURSO - ORIGEM DA LEITURA

TEXTO_Yvonne Yu/Yan Lam

FOTOGRAFIAS_Casli Lao/Un Hon In

ILUSTRADORA _Minqian Zhang

 

Na era da informação crescente, somos bombardeados com todos os tipos de notícias todos os dias e ficamos exaustos. Nos últimos dois anos, sob a influência da pandemia global, a probabilidade de ficar inquietos e perder o rumo aumentou. Em relação à leitura, o que precisamos não é de clichês, nem grandes princípios, pelo contrário, precisamos de algo tão simples como uma chávena de chá e um livro, imergir na origem da leitura, no mundo da literatura, no puro gozo da felicidade de ler, recuperar a intenção original e seguir em frente.

Anson Ng: Os livros abriram a porta para “um novo começo” para mim

Anson Ng

Falando nas livrarias de Macau, “Pin-to Livros” deve estar na lista. O operador dos bastidores da livraria, Anson Ng, é também um nome conhecido no meio cultural de Macau. Mergulhado no mar da leitura há muito tempo e tomando a leitura como profissão, que tipo de “primeira experiência” de leitura lhe deu a ideia de iniciar o negócio em “livros”?

Olhando para trás, Anson diz que o seu primeiro contacto com a leitura começou com uma experiência de “faltar às aulas”: “Eu era um aluno com excelente carácter e boas notas. Depois de entrar num período mais rebelde, as minhas notas baixaram. Estava sempre confuso com a ideia de leitura, uma vez que, naquela altura, a leitura se referia apenas a livros didácticos ou livros relacionados com a aprendizagem. Em Macau, há muito poucas opções de livros.” A experiência acidental de “faltar às aulas” para ir a Hong Kong ler livros abriu outra porta da sua “leitura”. “Havia livrarias nos segundos andares em Hong Kong que floresciam por toda a parte na época. Havia uma grande variedade de livros para escolher. De repente, recuperei o meu entusiasmo pelos livros. Quase todas as livrarias independentes ficaram com as minhas pegadas.” Depois prosseguiu os estudos em Taiwan. A forte atmosfera de leitura deixou-o ainda mais obcecado por livros. “Após o fim dos estudos, entrei na Livraria Eslite. Embora não fosse responsável pelos livros, o ambiente geral também me influenciou profundamente.”

Quando chegou a hora certa, Anson e alguns sócios abriram a livraria do andar de cima “Pin-to Livros”. Falando do processo de entrada neste sector, Anson sentiu que foi imperceptível: “É incrível, quando vemos uma situação dessas: quando uma pessoa segura num livro para ler, ninguém se opõe, certo? O design do livro, refiro-me ao design original do livro concebido neste formato de leitura e folhear, não mudou durante séculos, o que prova que é um bom design! Desde a forma até ao cenário de leitura é um processo de entrega de energia positiva e felicidade para as pessoas.” É exactamente a intenção de partilhar a alegria da leitura que leva Anson a injetar continuamente a energia da leitura em Macau.

Lin Hsiang Chun: Integrar a leitura na vida

É um processo interessante de “evolução” para as crianças irem da ignorância dos livros, no período da ignorância, à busca consciente dos livros que desejam ler. A atmosfera de leitura em família é muito importante para as crianças. Lin Hsiang Chun, dona da Livraria Júbilo 31 Books, compartilhou connosco a história de leitura dela e dos seus dois filhos, Marcelo e Mário.

Apesar de pertencerem à mesma família, Marcelo, de dez anos, e Mário, de cinco anos e meio, são pólos opostos em termos de personalidade, o que resulta em preferências de leitura diferentes. Marcelo tende a ser um “estudioso”, não gosta de se expressar e é fascinado por imagens e detalhes. Lin citou um exemplo: uma vez que haviam visitantes, Marcelo mostrou-lhes todos os livros da biblioteca de casa que contêm o elemento “peixe”, como forma de os acolher. “Ele realmente lembra-se de qual livro e de qual página tem um peixinho dourado!” Enquanto Mário é mais introvertido. Pode-se sentar e ler um livro em silêncio, muitas vezes, se gostar dele. O seu discernimento também lhe permite explicar claramente as suas preferências num livro e levantar muitas questões provocadoras que fazem pensar.

Lin não define “nenhum indicador KPI”  da leitura para as duas crianças, ou seja nenhum critério para decidir o que se adequa à leitura. A maioria dos livros que tem em casa é o que ela gosta de ler. Quando Marcelo e Mário eram jovens, ela empilhava os livros à volta deles e deixava que escolhessem livremente. “Os livros de ilustração são muito populares entre as crianças, como Alle Jahre wieder saust der Presslufthammer nieder, que está quase esgotado. Marcelo gosta tanto de ler este livro que já estragou o exemplar que tinha em casa, e agora o exemplar na minha loja está quase a acabar o stock.” Este tipo de livros é um modelo para as crianças entrarem rapidamente no ambiente de leitura. Alle Jahre wieder saust der Presslufthammer nieder usa molduras diferentes para representar as mudanças no mesmo lugar do campo de 1953 a 1972 a cada três anos. Muitas fotos longas são apresentadas e as crianças sentem intuitivamente a mudança do ambiente. Lin usa uma forma semelhante para trazer lentamente as crianças para o mundo da leitura. Eis a “primeira experiência” de leitura amorosa entre pais e filhos.

Associação de Popularização da Leitura de Macau: Partilhar a leitura, expandir a visão

A Presidente da Associação de Popularização da Leitura de Macau, Cyan Cheong e o diretor-geral, Warren Kam
A Presidente da Associação de Popularização da Leitura de Macau, Cyan Cheong e o diretor-geral, Warren Kam

 

Ler sozinho é divertido, mas participar num clube de livros e partilhar com amigos leitores de diferentes origens é outro tipo de experiência de leitura. Com a intenção original de incentivar e partilhar a leitura, Cyan Cheong e Warren Kam criaram a Associação de Popularização da Leitura de Macau, que realiza o clube de livros mensal. Desde a partilha inicial entre alguns amigos íntimos, à participação de mais de 70 pessoas de diferentes origens, pessoas que há muito não liam retomam o hábito de leitura e formam um ambiente de leitura positivo.

Cyan Cheong é Presidente da Associação de Popularização da Leitura de Macau, editora local e, mais importante, apaixonada pela leitura. O antecessor da Associação foi um pequeno encontro regular de partilha, organizado por ela e Warren Kam e outros amigos que adoram ler. Mais tarde, como “pessoas trazem pessoas”, mais e mais pessoas participaram, e finalmente a Associação de Popularização da Leitura de Macau foi estabelecida. “Ler é um hábito de vida para mim. Os livros apresentam uma variedade de culturas, vidas de outras pessoas, percepções do autor, etc., dando-me acesso a um mundo infinito e vasto. Além disso, os amigos do livro da Associação introduziram uma variedade de livros para mim. Isto não só inspirou o meu crescimento pessoal, como também trouxe novas possibilidades para a indústria editorial na qual estou envolvida.”, disse Cyan Cheong.

Warren Kam, o outro promotor da Associação, tem participado em diferentes clubes de livros em Macau e no Interior da China, durante os quais se tem apercebido de que o processo de partilha com os outros pode não só aprofundar a sua impressão de leitura, mas também mostrar-lhe novas perspectivas a partir da partilha dos outros. A partilha da leitura é como um efeito de “juros compostos”. Todos ganham conhecimento e crescem juntos. “Não importa o quanto uma pessoa lê, pois nunca se pode comparar a um grupo de pessoas. Eu sou uma pessoa que gosta de ler livros de ciência. Vejo muitos amigos a partilhar romances e livros de viagens. Os livros permitem-me desenvolver um novo campo de leitura. Isso é o que eu acho que é o encanto dos clubes de leitura. As pessoas expandem os seus horizontes na comunicação de leitura e rompem os seus pontos cegos e limitações.”, disse Warren Kam, com um sentimento profundo.

 

Professora aposentada, Choi Fong Meng: A leitura influencia a vida

Professora aposentada, Choi Fong Meng

 

Para os alunos actuais, os recursos de leitura estão prontamente disponíveis, mas para a geração da professora aposentada Choi Fong Meng, que viveu nas décadas de 1950 e 1960, os livros podem ser considerados um luxo. Na era da escassez de materiais, ler era o prazer mais simples dela, o que a influenciou a tornar-se professora, profissão que lhe permite passar a sua influência à próxima geração.

Choi relembrou: “Quando era criança, a loja de arroz vendia arroz em sacos dobrados com jornais. Sempre que a minha mãe comprava arroz e ia para casa, ela abria o saco de jornal com cuidado e guardava, e lia quando tinha tempo livre. Influenciada por ela, eu e os meus irmãos mais novos também criámos esse hábito naturalmente.” De contos de fadas a romances, de revistas mundiais e literatura clássica, Choi lê uma grande variedade de livros. Os romances de artes marciais são um dos seus livros favoritos, entre os quais se destacam as obras de Liang Yusheng e Jin Yong. Ela e os irmãos mais novos apertavam os cordões à bolsa para alugar livros nas “bancas de livros” da época e entravam no mundo dos romances heróicos e cavalheirescos juntos.

Durante o seu ensino secundário geral, Choi foi estudante a tempo parcial. Por mais cansativo que fosse o dia, Choi não perdia as aulas nocturnas de literatura. Essa persistência levou-a a tornar-se professora de Chinês. Quando leccionava no ensino básico, sempre gostou de transformar os artigos lidos em contos, o que despertava o interesse dos alunos pela leitura. O que dá a Choi um maior sentimento de gratidão é que os alunos encontram autoconfiança na leitura. “Conheci um aluno gago há muitos anos, e um dia ele até me falou sobre a história de O Romance dos Três Reinos. Eu encorajei-o a vir ter comigo e contar-me a história dos Três Reinos quando tivesse tempo. Ele assim fez e persistiu ao longo do semestre. Fiquei muito feliz ao ver as suas habilidades expressivas ficarem cada vez melhores e mais seguras. Depois de entrar no ensino médio, ele voltou à escola primária para me visitar e disse-me que gostava de ler livros de história e que queria caminhar nessa direcção no futuro. Ler é apenas um pequeno hábito, mas influencia silenciosamente a vida de todos.”

Recursos online, uma biblioteca que pode levar consigo

Afectada pela pandemia, a vida das pessoas passou por várias mudanças nos últimos anos e os hábitos de leitura também mudaram discretamente. A procura por recursos electrónicos de leitura no espaço pessoal aumentou significativamente. Para atender a essa necessidade, a Biblioteca Pública de Macau do Instituto Cultural lançou activamente novas iniciativas, incluindo exposições e palestras online e recursos electrónicos diversificados. Em comparação com 2019, a frequência da utilização de recursos electrónicos pelos leitores está a aumentar após o surto da COVID19, principalmente em 2020, e o número de cliques e acesso a livros, jornais e revistas digitais, bases de dados electrónicos e aprendizagem infantil multiplicou, com um máximo de cliques por mês de mais de 200.000 vezes e mais de 1,6 milhão de vezes em todo o ano. Em termos de requisição e leitura de livros electrónicos, o número total de requisições e leitura no segundo semestre de 2019 foi de mais de 40.000, número que aumentou quatro vezes para 182.000 no primeiro semestre de 2020. Nos primeiros três trimestres de 2021, o número acumulado ultrapassou 147.000. Perante a crescente procura por leitura online, a Biblioteca Pública de Macau do Instituto Cultural envida esforços, de forma contínua, para aumentar a quantidade e a diversidade de recursos electrónicos disponibilizados. Mais especificamente, foram adicionados o Flipster, um recurso de revistas e jornais electrónicos e Access Science, e o banco de dados electrónicos em 2020 e 2021, respectivamente, de modo a enriquecer as opções de leitura. Actualmente, existem mais de 16.000 tipos de livros electrónicos na Biblioteca, incluindo jornais e revistas, livros e recursos académicos profissionais, para melhor atender às necessidades dos diferentes tipos de leitores.

 

Estatísticas Electrónicas de Utilização de Recursos (1º. Trimestre 2019 - 3º. Trimestre 2021)

Números de Utilização de Recursos Electrónicos
Números de Utilização de Recursos Electrónicos