RECURSO - IDIOMA DA NATUREZA

TEXTO_Yvonne Yu / Yan Lam

FOTOGRAFIAS_FORNECIDAS PELOS ENTREVISTADOS

ILUSTRADOR_Sandy Leong

 

O naturalista inglês, Gilbert White, escreveu a obra clássica “A História Natural de Selborne” (The Natural History of Selborne) no séc. XVIII, com base no seu interesse pela observação da fauna na sua vida no meio rural. Despertou uma ressonância de interesse de todos pela natureza e pelas humanidades. Na presente edição, temos como tema a escrita sobre a natureza, dando a conhecer aos leitores várias obras literárias sobre a mesma. Através das suas palavras delicadas, é possível apreciar todas as coisas da natureza, incluindo flores, plantas, insectos e pássaros, e todas as pessoas, cultivando um pensamento filosófico de simbiose igualitária.

A Viagem de Criação de Grzylymg Haho, o “Filho da Natureza”

Grzylymg Haho

Grzylymg Haho

Na área literária sobre a natureza, há um autor que “não busca o caminho normal”. Com uma aparência rude, mas uma escrita delicada e fina, o autor mongol Grzylymg Haho que, no passado, ganhou o Prémio Bing Xin, foi chamado “Ernest Seton Thompson da China”. Na sua escrita há prados e florestas, há cães pastores, mas também lobos pequenos, e a ligação do destino de pessoas e animais é vívida e realista através deste estilo de escrita simples e cheio de significado.

Falando da Mongólia Interior, sua terra natal, Haho que agora vive na cidade de Hulunbuir, admite o seguinte: “Penso que os prados de Hulunbuir são os mais bonitos da China, e talvez os mais bonitos do mundo! Os humanos podem conviver em harmonia com o prado, sem danificar a mãe natureza. Tal representa um estado ideal: partilhar sem danificar”. Por estar sempre doente, com quatro anos de idade, Haho foi enviado de volta para a sua terra natal, depois de ter nascido na cidade. Quatro anos de vida no prado tornaram-se o epítome da sua criação: uma criança montando um pequeno cavalo a galopar, com um cão pastor do tamanho de um leão atrás, “enquanto o vento soprava, a erva parecia ondas do mar, e agora isto já é raramente visto”. A inspiração da criação de Haho é a sua infância, mas será um registo totalmente fiel à vida? O autor afirma que não é completamente. As histórias são fabricadas, mas os detalhes devem ser reais. “Nas minhas obras, todos os animais vivem no mundo real e no seu habitat natural que correspondem às suas características naturais e comportamentos. Esta é a base das minhas histórias... Por exemplo, para o conto Cavalo de Sangue, a história de um cavalo mongol, a mera recolha de materiais demorou três anos e meio. Entrevistei vários pastores no prado e ofereci um par de botas de hipismo a cada um. Até me tornei amigo do vendedor das botas na internet, por causa disso. Fiz isso para demonstrar respeito aos pastores idosos, e agradecer-lhes terem oferecido os detalhes das histórias mais reais.” Diferentemente de outros trabalhos da literatura da natureza ousados e criativos, as obras de Haho são muito próximas à vida real.

Haho disse que, no Interior da China, as suas obras são classificadas como “literatura infantil”, mas quando traduzidas para línguas estrangeiras, são classificadas como “literatura da natureza”, ou seja, são adequadas para a leitura de adultos e crianças. “Gosto de ser um escritor de literatura infantil, porque é muito difícil mudar os adultos, mas espero que mais crianças leiam as minhas obras, para que possam sentir o vento dos prados do Norte... Quero criar obras literárias com valor espiritual que possam moldar as crianças em determinada faixa etária, e acredito que a leitura mudará a China”.

Cavalo de Sangue

▸ Cavalo de Sangue

Autor:Grzylymg Haho

Ilustrador:Jieli Publishing House

Data de Publicação:2017

Combinar publicação de livro com as indústrias culturais e criativas

Jie Chen

Jie Chen

Jie Chen é uma “menina talentosa” famosa de Chengdu que já publicou mais de 30 obras. Em Abril deste ano, a colecção de prosas bem-recebida que lançou em 2014, A Cor Azul Violáceo, foi novamente publicada pela Sichuan People’s Publishing House. Esta “carta de amor dedicada às plantas” entrou novamente no horizonte dos leitores.

“A diferença entre a primeira edição e esta nova edição é, para além de pequenas modificações no texto, as ilustrações. Na primeira edição, foram usadas ilustrações botânicas europeias dos séc. XVII e XVIII, enquanto as ilustrações desta nova edição são da autoria da pintora de aguarela Yoli. Os dois tipos de ilustrações têm suas vantagens. Na minha opinião, o ponto comum é usar um realismo não tão directo (como fotos coloridas) para, quando estamos um passo atrás, apresentar os valores estéticos de tranquilidade, serenidade e implicação. Esta também era a minha intenção original da criação deste livro. Além disso, a edição nova adopta todo o conceito de concepção do designer Zhu Xinghai – calma, humildade e requinte – desde a capa até às páginas interiores, exibindo a visão magnífica das flores da perspectiva de insectos.” – explicou Jie Chen, quando foi perguntada sobre a diferença entre as duas edições. Apontou ainda que a sua adoração por plantas permeia as trivialidades da sua vida “actual” e dos “lugares distantes” para onde viaja. “No Junho desse ano, fui à Ilha de Huanglong, em Zhejiang, participar num plano de residência, e vi na costa um mar de flores selvagens cinzas balançando ao vento de mar. Nunca tinha visto plantas assim antes. Pesquisei na Internet e descobri que esta flor selvagem se chama Cnidium monnieri. Isto é a colheita e a felicidade trazidas pelos lugares longínquos. No entanto, a maior parte da nossa vida é vivida no presente e neste momento. Todos os dias eu ando pelo meu jardim, para ver que pequenas mudanças aconteceram com as flores e plantas que já conheço bem. Vejo se brotaram, se floresceram, se nasceu uma nova folha e um novo ramo… Tenho uma madressilva que plantei este ano, na Primavera, e nos últimos dias vi que o seu ramo mais longo finalmente chegou à parte superior da parede, com muito esforço, por isso fiquei muito feliz. Estive sempre a torcer por ela.” Jie Chen acredita que a natureza está integrada na nossa vida. “A natureza pode ser o deserto ou uma montanha, pode ser também uma folha ou uma pétala”.

O método de promoção da nova edição de A Cor Azul Violáceo é inovador e interessante. Para além do próprio livro, também foram lançados t-shirts brancas, lenços, sabonetes florais e postais ilustrados, entre outros produtos de merchandising do livro, assim como exibição de ilustrações de Yoli, recomendações de áudios de amigos, planeadas em conjunto pela “Sala de Estudo de Jie Chen em Qing’an” e a Sichuan People’s Publishing House, e tudo foi reunido e apresentado numa festa de fim de tarde primaveril em Qing’an. Jie Chen afirma que actualmente a forma como os livros são publicados é muito diferente do passado, mas também é necessário fazê-lo de acordo com as características do livro. Alguns livros são para ser lidos em silêncio e sozinho, mas alguns podem ter todo o tipo de “ligações”. E ela teve muita sorte em encontrar um enorme “grupo de pessoas proactivas”. Durante a pandemia, toda a gente está ansiosa por encontrar uma melhor forma de combinar os trabalhos com as indústrias culturais e criativas, no sentido de apaziguar a alma e usar o seu jeito para agradecer tudo o que a mãe natureza nos dá.

A Cor Azul Violáceo

▸ A Cor Azul Violáceo

Autor:Jie Chen

Editora:Sichuan People's Publishing House

Data de Publicação:2021

A Localizadora de Flores

Human Ip

Human Ip

Hong Kong é uma metrópole animada famosa em todo o mundo. As pessoas que andam na rua estão sempre com pressa. Talvez elas conheçam a selva urbana como a palma das suas mãos, mas não prestam muita atenção às plantas e aos animais locais. Human Ip, uma autora de Hong Kong que ama a natureza, se tornou a menina Yama que faz este registo. Ela caminhou por todas as montanhas e florestas em Hong Kong e registou todo o seu percurso em imagens e textos. Publicou obras da série In Search of Flora e da série In Search of Fauna, dando oportunidade a todas as pessoas de conhecer profundamente as histórias das plantas e dos animais em seu redor.

“Em Hong Kong, o foco das pessoas modernas é a cidade, mas, na verdade, três quartos da área do terreno nesta região está coberta por plantas, onde há mais de 2.100 plantas autóctones. De facto, todos podem explorar várias histórias locais a partir das espécies existentes.” Human afirmou: “Asseguro-me de que as plantas e os animais descritos nos meus livros são todos que eu já vi pessoalmente. Faço primeiro um registo, recolho e organizo os materiais, pesquiso histórias ou citações clássicas relevantes ou pergunto a idosos que conhecem bem as plantas. Depois disto, escrevo e, no final, é que transformo tudo em desenho, lentamente.” Durante o processo de escrita, o Compêndio de Matéria Médica (Ben Cao Gang Mu), de Li Shizhen, é um dos livros mais consultados por ela. “Li Shizhen é um botanista grandioso, pois demorou 27 anos para concluir todo o registo do livro, onde foram listados os vários nomes das mesmas plantas em diferente período, e juntou também a história e efeitos da planta, assim como a sua própria explicação. Os detalhes do material são muito ricos, e é uma ajuda valiosa no meu entendimento sobre as plantas.”

Para além de escrever livros, Human também ganhou outra identidade: agricultora. Gosta de cultivar a terra e plantar as plantas de que gosta. “Antes, em casa, só podia plantar em pequenos vasos. Agora planto na terra. Posso registar todo o processo, desde a plantação, os brotos, o florescimento, a produção de frutos e o murchamento.”

Com a pandemia no último ano, caminhar pela montanha e respirar ar puro na periferia tornou-se o método de relaxamento de muitos residentes na cidade. E vários leitores fotografaram plantas e pequenos animais vistos, fazendo-lhe perguntas. Human vê o aumento de interesse das pessoas pelas plantas e animais locais com bons olhos, isto é muito benéfico para a conservação. No entanto, ela permanece uma localizadora de flores que vive na cidade e, quando tem tempo, caminha até às montanhas ou riachos tranquilos, encontrando as plantas e animais que registará no futuro.

In Search of Flora 2

▸ In Search of Flora 2

Autor:Human Ip

Editora:Joint Publishing HK

Data de Publicação:2016

Recomendações de livros

Acreditamos que depois de ver as partilhas destes três autores de literatura da natureza, também sentiu a beleza vinda da natureza e se comoveu. A par disso, escolhemos 8 livros excelentes da colecção da biblioteca, para que possa continuar a escutar a linda melodia da natureza através das palavras sinceras e simples.

Este livro, em edição chinesa, faz parte do acervo da Biblioteca Pública de Macau do Instituto Cultural.

Este livro, em edição chinesa, está disponível nos seus recursos electrónicos da Biblioteca Pública de Macau do Instituto Cultural.

Este livro, em edição inglesa, faz parte do acervo da Biblioteca Pública de Macau do Instituto Cultural.

What a Plant Knows

▸ What a Plant Knows

Autor:Daniel A.Chamovitz

Tradutor:Liu Su

Editora:Changjiang Wenyi Press

Data de Publicação:2014

As plantas podem ver, cheirar ou ter memória? Será que elas são capazes de percepcionar as mudanças no mundo mais facilmente do que nós? Siga o biólogo Daniel e entre na vida de plantas de diferentes espécies, onde pode escutar e observar calmamente, de modo a saber mais sobre a nossa relação com a natureza, através dos resultados de pesquisas na área da genética, entre outros

Pilgrim at Thinker Creek

▸ Pilgrim at Thinker Creek

Autor:Annie Dillard

Tradutor:Yu Youshan

Editora:Guangxi Normal University Press

Data de Publicação:2015

A autora de uma das obras clássicas de literatura da natureza, Annie, apresentou, numa linguagem poética, todos os detalhes da mãe natureza observados durante um ano em que viveu na montanha. No livro, não só estão registados plantas, animais e mudanças climáticas, como também estão descritos a igualdade da vida, a harmonia de vivência entre os humanos e a natureza, assim como o verdadeiro sentido do respeito mútuo.

Nature and Man

▸ Nature and Man

Autor:Roka Tokutomi

Tradutor:Chen Dewen

Editora:Zhiwen Press

Data de Publicação:2001

O amanhecer no Monte Fuji, os templos frescos de Kyoto, e todos os lugares que possam ser vistos pelos nossos olhos e escutados pelos nossos ouvidos, foram registados tranquilamente com tinta e caneta nas mãos de Roka Tokutomi. Ao ler cuidadosamente as suas palavras refinadas, é como se uma paisagem elegante e tranquila aparecesse aos olhos do leitor, o que também demonstra os pensamentos filosóficos do autor e os seus sentimentos sobre a natureza.

A Conversação Secreta com a Floresta de Ku Ling

▸ A Conversação Secreta com a Floresta de Ku Ling

Autor:Ku Ling

Editora:People’s Literature Publishing House

Data de Publicação:2013

Esta é uma obra adequada para a leitura de pais e filhos. O autor guia todos pelos caminhos da natureza com os seus truques experientes para contar histórias. Através da viagem misteriosa pela floresta das personagens principais, a menina Atayal e Ku Ling, não só podemos aprender conhecimentos ecológicos sobre as plantas e os animais, também instiga a nossa reflexão sobre a relação dos humanos com a natureza.

The Moon by Whale Light

▸ The Moon by Whale Light

Autor:Diane Ackerman

Tradutor:Feng Hui,Cui Yinan

Editora:CITIC Publishing House

Data de Publicação:2017

Os morcegos, crocodilos, baleias e pinguins são quatro espécies de animais que têm vindo a diminuir continuamente, devido aos mal-entendidos e massacres por parte dos humanos. A autora observou atenciosamente as condições de vida destes animais. Mesmo correndo perigos durante o progresso, do início ao fim, está convicto/a de que a vida é igual para todos, e que os humanos estão intimamente ligados às situações encontradas por estes animais.

The Call of The Poles

▸ The Call of The Poles

Autor:Michio Hoshino

Tradutor:Wu Yiwen

Editora:Sunny Day Publishing House

Data de Publicação:2009

No vasto e imenso meio rural da região polar, o mundo é especialmente sereno, e a vida é perseverante. O fotógrafo Michio Hoshino usou a sua lente fotográfica para registar o estado dos seres vivos com o aquecimento global. Nas situações mais perigosas e difíceis, ainda é possível encontrar paisagens lindas, e estas tornam-se a força que nos encoraja a avançar.

Walden

▸ Walden

Autor:Henry David Thoreau

Tradutor:Le Xuan

Editora:Taiwan Commercial Pres

Data de Publicação:2014

Esta é uma das obras clássicas da literatura da natureza que regista a vida de isolamento de dois anos e dois meses de Henry David Thoreau, enquanto este construía a sua casa de madeira à beira do Lago Walden. Observar a mudanças das quatro estações no Lago Walden, e também observar as mudanças do seu próprio estado de espírito, fez com que o autor reflectisse novamente sobre a verdadeira busca material dos humanos.

A Sand County Almanac

▸ A Sand County Almanac

Autor:Aldo Leopold

Tradutor:Li Jingying

Editora:Reveal Books

Data de Publicação:2015

O famoso ecologista americano, Aldo Leopold, escreveu estas anotações de observação quando replantou, junto com a sua família, árvores numa quinta danificada e abandonada. Através do estabelecimento da nova ligação com o terreno, percepcionou de novo a beleza da natureza numa sociedade excessivamente materialista, e apercebeu-se também que os humanos são apenas uma parte do ecossistema, e não os donos de todas as coisas.