AMÉRICA Manuel Afonso Costa

Poeta, ensaista e professor universitário.

AMÉRICA

Jean Baudrillard nasceu em Reims, em 27 de Julho de 1929. Os seus avós eram camponeses, e os seus pais eram funcionários públicos. Jean Baudrillard faleceu em 2007 aos 77 anos de idade.

Como tudo o que fez, Baudrillard é convincente, mesmo que não tenha razão. Parece que esteve na América muito pouco tempo, foi Onésimo Teotónio de Almeida que me disse e "veja o atrevimento de publicar um livro como se a conhecesse profundamente. Então, a questão da velocidade é ridícula".   Por outro lado lê-se apaixonadamente como um inventário de premonições. Eu, pessoalmente é isso que espero de um sociólogo, espero que veja já o que os outros não vêm ainda, mas irão ver tarde quando já há outras coisas para ver


Jean Baudrillard nasceu em Reims, em 27 de Julho de 1929. Os seus avós eram camponeses, e os seus pais eram funcionários públicos. Durante os seus estudos do ensino médio no Lycée Reims, ele entrou em contacto com a 'patafísica (através do professor de filosofia Emmanuel Peillet), que é considerada crucial para a compreensão do pensamento posterior de Baudrillard. Ele foi o primeiro na sua família a fazer estudos superiores quando se mudou para Paris e ingressou na Sorbonne. Jean Baudrillard é contemporâneo do Maio de 68 em França e um dos seus ideólogos.

Quer com sociólogo, como poeta e também enquanto fotógrafo, Baudrillard desenvolveu uma série de teorias que remetem ao estudo dos impactos da comunicação e dos média na sociedade e na cultura contemporâneas. Partindo do princípio de uma realidade construída (hiper-realidade), o autor discute a estrutura do processo em que a cultura de massa produz esta realidade virtual.

As suas teorias contradizem o discurso da verdade absoluta na perspectiva tradicional também desconstruída por Richard Rorty, na Filosofia como Espelho da Natureza e contribuem para o questionamento da situação de dominação imposta pelos complexos e contemporâneos sistemas de signos. Os impactos do desenvolvimento da tecnologia e a abstracção das representações dos discursos são outros fenómenos que servem de objecto para os seus estudos. A sua postura profética e apocalíptica é fundamentada através de teorias irónicas que têm como objectivo o desenvolvimento de hipóteses sobre questões actuais e que reflectem sobre a definição do papel perceptivo que o homem ocupa neste ambiente.

Para Baudrillard, o sistema tecnológico desenvolvido deve estar inserido num plano capaz de suportar esta expansão contínua. Ressalta que as redes geram uma quantidade de informações que ultrapassam limites a ponto de influenciar na definição da massa crítica. Todo o ambiente está contaminado pela intoxicação mediática que sustenta este sistema. A dependência deste "feudalismo tecnológico" torna-se  necessária para que a relação com o dinheiro, os produtos e as ideias se estabeleça de forma plena. Esta é a servidão voluntária resultante de um sistema que se movimenta num processo espiral contínuo de auto-sustentação.

A interactividade permite a integração de elementos que antes se encontravam separados. Este fenómeno cria distúrbios na percepção da distância e na definição de um juízo de valor. As partes envolvidas encontram-se tão ligadas que inibem a representação das diferenças transmitida por elas. A máquina representa o homem que se torna um elemento virtual deste sistema. As representações são simuladas num ambiente de redes que fornecem uma ilusão de informações e descobertas. Tudo é previamente estabelecido: "O sistema gira deste modo, sem fim e sem finalidade", diz o autor. Devido à sociedade tecnocrática e ao poder dominador dos meios de comunicação, a vida humana acaba por se tornar virtual.

Jean Baudrillard faleceu em 2007 aos 77 anos de idade.

Como tudo o que fez, Baudrillard é convincente, mesmo que não tenha razão. Parece que esteve na América muito pouco tempo, foi Onésimo Teotónio de Almeida que me disse e "veja o atrevimento de publicar um livro como se a conhecesse profundamente. Então, a questão da velocidade é ridícula". Com desprezo crítico, mas com alguma razão,  sobretudo, nessa questão da velocidade. Por outro lado lê-se apaixonadamente como um inventário de premonições. Eu, pessoalmente é isso que espero de um sociólogo, espero que veja já o que os outros não vêm ainda, mas irão ver tarde quando já há outras coisas para ver. Os sociólogos, normais,  não têm interesse nenhum, porque se limitam  a dar nomes ao que todos vêm e entendem. Os visionários, abrem-me os olhos para o que por enquanto é invisível. Mas não é assim em todas as ciências?

América é o diário de viagem aos Estados Unidos do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard. A América de Baudrillard é um lugar paradoxal: simultaneamente, vulgar (na cultura despersonalizada dos subúrbios da classe média), e original (a América como utopia realizada do velho sonho europeu de uma «sociedade perfeita», livre, democrática, próspera). A América de Baudrillard prefigura os tempos da 'virtualidade' e da 'velocidade', em que vivemos. A síntese entre a cinética e a cinematografia. Entre as redes que conectam computadores e o domínio absoluto da imagem - «a televisão permanentemente ligada» - que definem não apenas, as novas vias de circulação do capital, mas também as novas formas de relação e construção do espaço social, na era do simulacro. A América como o lugar da utopia tecnocientífica é um paraíso artificial, dominado pelo desenvolvimento e perfeição tecnológica. Um topos onde se projectam e misturam os modelos da sociedade do híper consumo, da simulação e da realidade virtual. Este é um livro importante para melhor compreender o pensamento de Baudrillard e a América como a utopia que nos espera.

Isso é uma possibilidade de leitura, a outra é a de Onésimo Teotónio de Almeida que enfatiza o facto de a América ser muito repressiva relativamente à velocidade. Ambos têm razão: do ponto de vista da circulação automóvel a velocidade é reduzida e vigiada, porém o que circula a grande velocidade é a informação: televisão, rádio, net, etc. até os outdoors parece que mudam todos os dias…

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Autor:Baudrillard, Jean

Editora:João Azevedo Editores, Viseu

Data de Publicação:1989