Tópico: A Marcha da China

A República Popular da China já existe há sessenta e seis (66) anos e todas as pessoas querem saber qual o seu futuro. Como escreveu o conhecido autor chinês Lu Xun em Cidade Natal: ‘A esperança e o desespero não são autênticos. É como o caminho no chão: não há caminho no início; forma-se quando mais pessoas trilham o mesmo caminho.’ O caminho para o futuro é fundado nos livros.

Esta edição de Livros e a Cidade apresenta cinco livros de diferentes géneros, incluindo prosa e um romance que ilustra o sentimento do povo chinês, reportagens e livros de ciências sociais que exploram assuntos sérios, e ainda um álbum de fotografias que regista a beleza das paisagens chinesas.

O experimentado jornalista americano Evan Osnos viveu na China durante oito anos e adquiriu um conhecimento mais profundo que muitos nativos. O livro junta centenas de entrevistas que realizou, centenas de páginas de registos de julgamentos que obteve e numerosos relatórios de imprensa e sítios web que tomou como referência nestes oito anos.  Além disto, Osnos delineia fielmente a relevância desta super-potência através de uma descrição delicada juntamente com uma narrativa apelativa e histórias contadas a partir de várias perspectivas.

A eloquência do livro funda-se nas entrevistas de Osnos em pessoa; por exemplo, participou numa digressão europeia com pessoas da classe média para compreender a psicologia dos visitantes chineses e nos jantares promovidos por sítios web de encontros para compreender a ansiedade dos celibatários chineses. Os entrevistados no livro incluem homens de negócios que se tornaram ricos instantaneamente, activistas que defendem os direitos humanos contra o governo, e populares que contribuem para a sociedade de forma discreta. O livro inclui os nomes dos entrevistados e é muito convincente.

Como intelectual, Osnos tem os seus próprios valores; como jornalista, insistiu no princípio da objectividade e da neutralidade. Quando entrevistou  activistas dos direitos humanos, reflectiu fielmente a sua fragilidade; quando entrevistou os analistas socais online que apoiam o governo, também retrata as suas inocentes perspectivas. O livro ganhou o National Book Award 2014 em não-ficção nos EUA.

Nascido em Hong Kong e educado em Taiwan, o académico Lueng Man Tao viajou no Interior da China em anos recentes. Intitula a prosa na sua colecção com 44 palavras chave. Escreveu sobre os eventos sociais mais importantes e recentes na China que se integram para formar um plano de desenvolvimento da China no séc. XXI.

Leung Man Tao apresenta uma observação profunda destes importantes eventos socais no âmbito da sua bolsa em estudos antigos e modernos. Por exemplo, analisou o consumo evidente de internet da celebridade Guo Meimei com os seus estudos académicos sobre o comportamento dos mercadores ricos durante o período da Renascença e um estudo académico britânico sobre epidemiologia; escrutina também a guerra de palavras dos utilizadores chineses da internet no que se refere ao patriotismo e a traição da nação citando os casos do futebolista norte-coreano Jong Tae-Se que nasceu no Japão e do pensador americano Thomas Paine que emigrou de Inglaterra.

Leung Man Tao possui um discernimento sagaz sobre os assuntos sociais dada a sua sensibilidade budista pelos temas públicos que respeitam a natureza humana e o amor.

Poucas pessoas poderiam estudar a questão das solteironas na China com uma abordagem estritamente académica. O pai da sino-americana Leta Hong Fincher é diplomata e a sua mãe linguista. Ambos são académicos de renome de estudos chineses. Leta cresceu em Hong Kong e foi pela primeira vez à China quando tinha 3 anos de idade, vindo a doutorar-se em Sociologia pela Universidade de Tsinghua. Intrigada pelo facto de muitas mulheres solteiras chinesas na China serem depreciativamente denominadas “mulheres de sobra”, decidiu estudar o assunto em profundidade.

Para abordar esta questão, Fincher solicitou a centenas de mulheres solteiras para responderem a questionários detalhados online antes de realizar entrevistas exaustivas com centenas de entrevistadas. Leu cuidadosamente muitos documentos oficiais, novos relatórios e diplomas legais e até comparou os direitos feministas da Dinastia Song à situação actual para concluir que a discriminação de riqueza e a violência doméstica que as “mulheres de sobra” enfrentam agora tem origem nos problemas inerentes ao sistema actual.

Correspondente estrangeira ao longo dos anos Fincher escreveu um relato verdadeiro e atraente num relatório de mais de 200 páginas. As entrevistadas com nomes fictícios articulam a sua lamentável e difícil situação, meticulosamente; uma mulher divorciada conta a violência doméstica a que foi sujeita identificando-se. Este é um levantamento magnífico sobre estudos de género da RPC.

Os Anos Gordos é um romance que narra o zénite da China enquanto a economia global toca no fundo. Contudo, um mês desaparece no ar antes do zénite. Ninguém quer saber da verdade – excepto o protagonista que tenta procurar a memória perdida. Hoje em dia, podemos tomar este zénite como garantido mas o romance foi escrito em 2009 quando a China não tinha ainda “emergido”.

Chan Koonchung nasceu em Xangai e cresceu em Hong Kong. Residiu em Taipé e actualmente vive em Pequim. Retrata realisticamente a China nos seus dias de apogeu, com receitas prolíferas, publicações de imprensa prósperas, religiões diversificadas e cidadãos dóceis sob a administração do governo. Até a sua Felicidade Nacional Bruta é a mais elevada do mundo. A profecia no livro representa o desejo de cada chinês e mesmo o leitor conclui que a investigação do protagonista mostra desprezo por ele.

Esta obra da literatura contemporânea representa os fenómenos excêntricos na sociedade chinesa e tornou-se uma introdução à China. O livro já foi traduzido em mais de 10 línguas.

Tom Carter, um autor americano que ensinou inglês na China, não decidiu analisar a situação da China elaboradamente com palavras. Em vez disso, fez os leitores memorizarem as suas magnificas paisagens através de fotografias. Este álbum fotográfico de mais de 600 páginas é o resultado da sua viagem de 4 anos a 33 províncias da China. A sua lente captura o património histórico e a arquitectura moderna, uma velhinha com os pés atados e uma rapariga com piercings no corpo, assim como compradores excessivos e pedintes nas ruas.

O livro divide-se em capítulos de acordo com o local onde as fotografias foram tiradas. O prefácio de cada capítulo é diferente: o autor retrata alusões históricas ao local, partilha comoventes condolências numa cidade de comboios na gelada Heilongjiang ou compõe um poema para a paisagem de Zhejiang em vários capítulos. Presta atenção às pessoas de diferentes etnias: dos Hui em Shinjiang ao tibetanos no Tibete, às trabalhadoras domésticas filipinas e à comunidade indo-paquistanesa em Hong Kong, aos trabalhadores da construção nativos e a uma mulher idosa Hakka em Macau, todos se tornaram temas do seu álbum.

Este álbum fotográfico não apenas reflecte a realidade social da construção em grande escala e a disparidade entre ricos e pobres, mas também retrata pessoas pacíficas e felizes.