RECURSO - Leitura Divertida para Crianças

TEXTO_Yan Lam/Yvonne Yu

FOTOGRAFIAS_Casli Lao/Panda Lei

É comum dizer-se que os hábitos de leitura devem ser cultivados desde cedo. No entanto, com que idade devemos começar? O que devemos ler para começar? A Biblioteca Pública de Macau, uma das instituições sociais e educativas mais importantes e acessíveis da cidade, desempenha um papel fundamental na organização e distribuição de recursos de leitura. Para além de proporcionar um ambiente de leitura acolhedor e um extenso catálogo, a Biblioteca atribui uma grande importância à promoção de serviços de leitura inovadores e da colaboração com instituições de ensino e associações infantis relevantes1, procurando optimizar os recursos de Macau – limitados, mas de qualidade – e partilhar os mesmos com um maior número de leitores. Nesta edição de Os Livros e a Cidade, convidámos várias figuras que se dedicam a promover a leitura junto das crianças e trabalham neste âmbito com a Biblioteca, a fim de partilharem connosco as melhores formas de cultivar o prazer da leitura.

Nota 1: Chen, Y.Q. (Maio de 2017). “A Função e Estratégia da Biblioteca Pública na Promoção da Leitura das Crianças”. Revista Chizi, n.º 419, p. 181.

É comum pensar-se que as crianças devem começar a ler somente após os três anos de idade, mas, na verdade, os bebés entre os 0 e os 3 anos já podem começar a desenvolver as suas competências de leitura. A “Happy Reading Planet Association” é uma associação dedicada à promoção da leitura de pais para filhos em Macau, tendo já realizado com êxito várias actividades de leitura para bebés, muito raras em Macau.

Presidente Kamin Leong (à esquerda) e vice-presidente Cindy Chow (à direita) da “Happy Reading Planet Association”

A “Happy Reading Planet Association” foi fundada pela presidente Kamin Leong e pela vice-presidente Cindy Chow em 2018, sendo a maioria dos membros provenientes do meio educativo. Em apenas dois anos, a associação co-organizou com a Biblioteca Pública de Macau as actividades “Leitura de Livros Ilustrados com a Família” e “A Leitura Promove o Crescimento”, conquistando inúmeros fãs. Todas as sessões de “Leitura de Livros Ilustrados com a Família”, direccionadas para bebés dos 0 aos 3 anos de idade, esgotaram, indicando a falta de actividades de leitura em família para bebés dos 0 aos 3 anos na cidade. A actividade, explica Cindy Chow, contou com uma selecção especial de livros “pop-up”: A Aranha Atarefada e Carrega Aqui – o primeiro destina-se a facilitar a capacidade de aprendizagem linguística dos bebés por meio de cenas e diálogos repetidos e o último é um livro sensorial infantil que deu origem a debates acalorados na Feira do Livro de Frankfurt e na Feira do Livro Infantil de Bolonha, permitindo aos bebés experienciar o prazer da leitura através de um modo de leitura “mágico”, em que pais e bebés podem lançar um feitiço mágico numa página e encontrar a resposta na página seguinte. “A Leitura Promove o Crescimento”, uma actividade promovida pela Biblioteca Pública de Macau há muitos anos, é, por sua vez, direccionada para pais e crianças dos 4 aos 7 anos, apresentando diferentes temas todos os meses. Este ano, o evento irá guiar os participantes na leitura de livros ilustrados através de uma série de abordagens diferentes.

A aspiração original das duas fundadoras ao criar a associação era encorajar os pais a reservar mais tempo da sua agenda sobrecarregada para a leitura com os seus filhos, inspirando-os assim a desfrutar desde cedo da leitura. Desenvolver hábit

A Leitura Promove o Crescimento

Leitura de Livros Ilustrados com a Família

Lydia Ieong, uma das fundadoras desta plataforma local de criação de literatura infantil

“Deixe que a leitura entre na vida dos seus filhos a partir de cenas familiares. Ao ligar a leitura à vida das crianças, estas poderão sentir-se mais identificadas com o que lêem e compreender melhor e reflectir sobre a vida através da leitura. Este é também o objectivo da criação de ‘Children’s Pen of Macau’”, afirma Lydia Ieong, uma das fundadoras desta plataforma local de criação de literatura infantil. Só quando começou a procurar livros ilustrados adequados para a leitura de pais para filhos é que percebeu que Macau tem recursos limitados de literatura infantil. Segundo Ieong, “não é que os livros infantis publicados no exterior não tenham qualidade, mas o seu contexto pouco familiar cria uma certa distância, não permitindo que as crianças se identifiquem com as histórias. Esta é a razão pela qual decidi criar “Children’s Pen of Macau”. O objectivo é fomentar a criação de histórias de Macau para as crianças da cidade.” “Children’s Pen of Macau” tem vindo a promover a leitura junto das crianças e a criação de literatura infantil de formas variadas, publicando, por exemplo, os seus próprios periódicos e colecções de histórias e estabelecendo uma plataforma “online” de narração de histórias para crianças, para além de realizar sessões de narração de histórias para crianças em colaboração com diferentes associações.

O teatro interactivo e a leitura de livros ilustrados são, sem dúvida, as abordagens mais fáceis para atrair a atenção do público. Os livros ilustrados, os desenhos animados e a narração de histórias são igualmente muito apelativos para as crianças, mas nenhum pode substituir completamente a leitura de pais para filhos, que consiste numa prática muito simples. Ieong sublinha que os pais devem começar a expor os seus filhos a livros de transição aos 6 anos de idade, a fim de passarem de livros ilustrados para livros com conteúdo mais textual. “Recomendo aos pais que usem livros de transição com mais frequência quando estiverem a ler histórias aos seus filhos, por forma a ajudá-los a transitar de livros centrados em ilustrações para livros com mais texto.” Com vista a promover os livros de transição, Ieong criou uma série de histórias com elementos locais, como Kai Kai e Xin Xin em Macau, uma série de livros infantis sobre Kai Kai e Xin Xin, dois pandas que vivem em Macau. Ieong espera que, ao combinar a experiência de leitura com a experiência da vida real, os livros possam contribuir para um maior conhecimento dos pequenos leitores sobre Macau e para o seu sentido de pertença à cidade.

Segundo Ieong, a leitura não é um luxo, mas sim algo que todas as crianças devem ter a oportunidade de fazer. Por este motivo, “Children’s Pen of Macau” visita frequentemente diferentes bairros para partilhar o prazer da leitura com a população. “Na verdade, não são só os escritores ou os professores que podem cultivar o hábito da leitura nas crianças. O mais importante é que os pais passem tempo a ler com os seus filhos.” E Ieong acrescenta: “Os pais não têm de se preocupar se têm ou não têm jeito para contar histórias. Eles podem contar histórias com uma linguagem simples ou ler um livro em voz alta e depois conversar descontraidamente com os filhos sobre a história. O mais importante da leitura entre pais e filhos é ter tempo de qualidade com as crianças e ajudá-las a formar hábitos de leitura sustentáveis.”

 “Children’s Pen of Macau” realizou uma sessão de narração de histórias infantil num parque comunitário

“Children’s Pen of Macau” lançou um periódico homónimo sobre literatura infantil

“A Aventura do Principezinho”, uma exposição temática de livros da colecção da Biblioteca, promovida pela Biblioteca Pública de Macau no ano passado, não só incluiu exposições itinerantes nas várias dependências da Biblioteca, como também propôs o empréstimo gratuito de livros às escolas locais para fins de exposição, permitindo às mesmas ter acesso aos recursos da Biblioteca Pública e promover a leitura junto dos seus alunos.

As professoras Wendy Weng e Tina Leong, responsáveis ​​pela promoção da leitura na biblioteca da Secção Chinesa do Colégio de Santa Rosa de Lima, referem que esta foi a sua primeira colaboração com a Biblioteca Pública de Macau, tendo, pela primeira vez, requisitado recursos da mesma para fins de exposição na escola. A exposição foi sobretudo direccionada para alunos do 5.º ao 12.º ano. “Tendo em conta que O Principezinho é um clássico literário muito conhecido, considerámos que a exposição seria muito apelativa para os alunos. Por conseguinte, quando vimos os materiais promocionais, decidimos inscrever-nos para co-organizar a exposição na escola. Também realizámos uma série de actividades extra dedicadas ao tema da exposição, incluindo festas de leitura, sessões de partilha e campanhas de redacção de fichas de leitura, na esperança de incentivar os alunos a cultivar o hábito da leitura.

A maior conquista da exposição foi estimular o interesse dos alunos pela leitura. Ambas as professoras concordam que a exposição teve resultados favoráveis: os alunos ficaram a conhecer melhor o autor de O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry, por meio dos itens expostos da Biblioteca Pública e a mostra, para surpresa das professoras, não só atraiu a atenção dos alunos para o tema, como também inspirou os alunos a ler sobre temas mais variados. Nas palavras de Leong, “O Principezinho é uma obra literária de renome mundial, a exposição despertou o interesse dos alunos pela leitura de outras obras literárias mundialmente famosas. Por outro lado, também ficámos satisfeitos por ver que esta exposição sobre literatura também impulsionou a curiosidade dos alunos pela ciência, ao abarcar muitos conhecimentos científicos, como planetas e aviação. Após visitarem a exposição, os alunos visitaram a nossa biblioteca escolar e até mesmo a Biblioteca Pública para requisitar livros relacionados com estes temas, o que por sua vez fomentou os seus hábitos de aprendizagem e leitura independentes.”

As professoras e promotoras da leitura Wendy Weng (à esquerda) e Tina Leong (à direita) da Secção Chinesa do Colégio de Santa Rosa de Lima

“A Aventura do Principezinho”, exposição temática de livros da coleção da Biblioteca, promovida pela Biblioteca Pública de Macau, decorreu na Secção Chinesa do Colégio de Santa Rosa de Lima

A biblioteca da Secção Chinesa do Colégio de Santa Rosa de Lima lançou uma série de actividades extra para complementar a exposição temática, incluindo campanhas de redacção de fichas de leitura e festas de leitura.

Paul Pang, fundador do “ Método Kaiyuan de Narração de Histórias”

Paul Pang é conhecido pela sua coluna na secção de literatura infantil do jornal Ou Mun (Diário de Macau). Com uma vasta experiência na área da educação e graças aos cerca de 30 anos de serviço na Universidade de Macau, Pang é também, desde há muitos anos, um pioneiro na promoção de actividades concretas de leitura para crianças em diferentes escolas e instituições de ensino.

Referindo-se à origem do seu Método Kaiyuan de Narração de Histórias, Pang recorda: “Quando a minha filha Kaiyuan era pequena, eu contava-lhe todas as noites histórias que improvisava e criava interactivamente com ela, com base nas suas personagens favoritas (como a Xi Yangyang/Ovelha Feliz) e em situações da vida real (como os nossos momentos de recreio no Jardim da Flora). A minha filha adorava essas histórias, as quais acabaram por se tornar memórias maravilhosas e marcar o início do meu percurso na escrita criativa”.

Quando contava histórias às crianças do infantário da sua filha, Pang descobriu que todos adoravam histórias interactivas. Foi nessa base que criou o Método Kaiyuan de Narração de Histórias, um método de contar histórias personalizado que incentiva os pais a contar histórias com base nos interesses e nas necessidades dos seus filhos, estabelecendo assim uma relação estreita entre eles e desenvolvendo várias qualidades nas crianças.

Relativamente às várias actividades de leitura para crianças realizadas em Macau, Pang considera que apesar da disponibilidade crescente, as mesmas ainda não chegam a todo o lado, esperando que as escolas primárias e infantários possam aliar-se aos serviços públicos para realizar mais actividades de narração de histórias para pais e filhos, palestras e workshops, a fim de desenvolver especialmente as competências, os hábitos e a coragem dos pais na narração de histórias. “Os pais são os melhores contadores de histórias e um modelo para as crianças. Quanto mais histórias os pais lerem, contarem e criarem, mais as crianças estarão dispostas a imitá-los, o que contribuirá para melhorar a sua capacidade de comunicar e para estimular a sua criatividade. Eu próprio sofro de gaguez, mas a minha filha nunca implicou com o meu modo esquisito de falar.” Pang dá ainda outro exemplo: “Durante uma palestra que dei num infantário, houve uma senhora que me perguntou se poderia inventar histórias para o seu neto com base nas imagens de livros ilustrados, pois ela não sabia ler. Eu respondi que podia, sem dúvida alguma. Todos os pais deviam aprender a ser corajosos como ela.”

A Biblioteca Pública de Macau organiza várias actividades para famílias todos os anos, incluindo eventos e workshops que promovem a leitura junto das crianças. Vamos reviver alguns momentos maravilhosos destas actividades através de registos fotográficos.

Workshop “Vamos Juntos à Aventura – Vamos Criar Um Avião de Papel Super Fixe”

Com a ajuda do instrutor, as crianças aprenderam diferentes métodos de dobragem para criar aviões de papel por meio da imitação, observação e anotações.

Educação sobre o uso de Recursos da Biblioteca

Os instrutores apresentaram os recursos da biblioteca às crianças do infantário afiliado da Sheng Kung Hui Escola Choi Kou (Macau) por meio de jogos interactivos.

“Lendo em Toda a Cidade” 2019

A campanha de 23 de Abril de 2019 “Lendo em Toda a Cidade” convidou todos os interessados a organizar pontos de leitura por toda a cidade, incluindo o pólo da Escola de Santa Madalena, onde foi realizada a sessão “O Prazer Infinito da Leitura”, em que professores e alunos puderam desfrutar juntos da leitura.

“Livros ao Sol” 2019

“Beijo à Natureza – Passeio em Livros de Ilustração”, uma actividade integrada na série “Livros ao Sol”, convidou as crianças para um passeio ao ar livre para ler sobre o mundo natural e explorar o mesmo. Através da orientação do instrutor, o qual ia apresentando várias plantas ao longo do percurso, as famílias tiveram oportunidade de ficar a conhecer a flora do Monte da Taipa Pequena  e de experienciar a harmonia entre o homem e a natureza.