SINOPOSE E FICHA CRÍTICA DE LEITURA Manuel Afonso Costa

Poeta, ensaísta e professor universitário.

SINOPOSE E FICHA CRÍTICA DE LEITURA

A Queda dum Anjo é o título de um romance satírico de Camilo Castelo Branco, escrito em 1866.  Calisto: é o protagonista, herói da novela. Conservador, símbolo do Portugal Velho.

O mais interessante, quanto a mim, da obra a Queda de um Anjo, é a sua modernidade. A cidade de Lisboa está, na política, repleta de anjos, dos seus vícios, das suas ilusões. Nem todos caem contudo, alguns aprendem rápido a sobreviver nesta selva de anjos corruptos dissimulados, sedutores, o quanto baste.


Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco  nasceu a 16 de Março de 1825 na freguesia de Mártires em  Lisboa, 16 de Março de 1825 e veio a falecer em Vila Nova de Famalicão, São Miguel de Seide, no dia 1 de Junho de 1890. Foi sobretudo um escritor tendo-se destacado no romance, na crónica, no teatro, na tradução, e até na arte poética e nas actividades críticas.

Foi ainda o 1.º Visconde de Correia Botelho, título concedido pelo rei D. Luís. Foi um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa. Há quem diga que, em 1846, foi iniciado na Maçonaria do Norte, o que é muito estranho ou algo contraditório, pois há indicações de que, pela mesma altura, na Revolta da Maria da Fonte, lutava a favor dos Miguelistas como "ajudante às ordens do general escocês Reinaldo MacDonell", que criaram a Ordem de São Miguel da Ala precisamente para combater a Maçonaria. Do mesmo modo, muita da sua literatura demonstra defender os ideais legitimistas e conservadores ou tradicionais, desaprovando os que lhe são contrários. Teve uma vida atribulada, que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários. Apesar de ter de escrever para o público, sujeitando-se assim aos ditames da moda, conseguiu manter uma escrita muito original. Dentro da sua vasta obra, também se encontra colaboração da sua autoria em diversas publicações periódicas.

A Queda dum Anjo é o título de um romance satírico de Camilo Castelo Branco, escrito em 1866.

O narrador assume diferentes papéis. Assim, tem várias vozes: a de narrador omnisciente (conhece o que se passou e o que se irá passar) mas participante (ora faz comentários ora se distancia); narrador-autor, sempre que se refere a pormenores do romance, narração ou quando se identifica com Calisto; narrador-biográfico, na medida em que Camilo, ao descrever Calisto, se descreve a si próprio; a de narrador-cronista, dado que parte de dados reais para a ficção. Este jogo do narrador tem um ponto comum: a ironia. Calisto: é o protagonista, herói da novela. Conservador, símbolo do Portugal Velho. Homem erudito, assíduo leitor dos clássicos (baseia todo o seu comportamento nos livros, o que confere comicidade à novela), defensor dos valores da moral antiga, bem como do uso duma linguagem vernácula, simples, sem estrangeirismos (como Camilo, notando-se melhor essa semelhanças nas sessões parlamentares quanto à linguagem, mas também às opções políticas), avesso à modernização. Daí condenar os luxos excessivos, os fundos para os teatros, a literatura moderna, nomeadamente a francesa e a aparência ridícula. Mas é também um homem ingénuo, puro e sincero, despertando assim no leitor uma certa simpatia. Calisto vai sendo engrandecido, para que a sua queda cause maior impacto. Por causa do amor, muda: muda a aparência física, vira-se para o futuro, aberto à modernização, à literatura moderna, simbolizando o Portugal Novo. Cai o anjo para a categoria de homem. É uma personagem modelada, em função da qual todas as outras se movimentam pois é a partir dele que se desenrola a acção.Teodora: Mulher provinciana, pouco interessante, sem graça, rude, banal, com uma linguagem proverbial, apenas preocupada com a lida da casa e a lavoura. Sofre alterações (apenas a aparência e parte da moral), pois entrega-se a uma relação ilícita, mas a ignorância inicial não desaparece. Brás Lobato: mestre-escola, com uma falsa erudição associada ao oportunismo. Homem provinciano, faz figura na terra mas em Lisboa torna-se cómico pela sua ignorância. Abade de Estevães: Estabelece a ligação entre Calisto e os outros deputados. Adopta uma confortável posição neutra nos males sociais e políticos. Dr. Libório: deputado com um discurso oco, cheio de floreados e sem sentido. Plagia o Dr. Aires, não o confessando….. 

Tem como função realçar Calisto. Simboliza o Portugal Novo, fraco, destituído de sentido. Daí o discurso de Calisto depois da queda ser parecido com o desta personagem. D. Catarina Sarmento: perspectiva romântica. Envolvida de amores com D. Bruno Mascarenhas, cedo se arrepende (intervenção de Calisto) e nunca confessa ao marido. Lia literatura moderna francesa (Balzac), notando-se aqui uma insinuação do narrador quanto às más influências que tais leituras lhe causam. D. Adelaide: noiva de Vasco da Cunha. Reconhecida a Calisto por ter salvo o casamento da irmã, Adelaide dedica-lhe a sua amizade e logo Calisto se enamora dela. É importante na medida em que é a força que desencadeia em Calisto um sentimento até aí desconhecido…

Na escrita camiliana, seja jornalística, epistolográfica ou novelística, a polemicidade é um traço discursivo marcante.

O mais interessante, quanto a mim, da obra a Queda de um Anjo, á sua modernidade. A cidade de Lisboa está, na política, repleta de anjos, dos seus vícios, das suas ilusões. Nem todos caem contudo, alguns aprendem rápido a sobreviver nesta selva de anjos corruptos dissimulados, sedutores, o quanto baste. 

A Queda Dum Anjo

▸ A Queda Dum Anjo

Autor:Castelo Branco, Camilo

Editora:Porto Editora, Porto

Data de Publicação:2003