OS MANUSCRITOS DE ASPERN Manuel Afonso Costa

Poeta, ensaista e professor universitário.

OS MANUSCRITOS DE ASPERN

A primeira parte da história narra o interesse quase doentio que a figura de um editor sem escrúpulos nutre pelos “Aspern Papers”. O autor dos manuscritos é um poeta de culto e o editor possui aquele carácter de coleccionador que deseja obter uma peça rara seja lá como for. Este seja lá cono for é de qualquer maneira no quadro do cavalheirismo inglês. “Os manuscritos pertencem a duas idosas e para se apoderar deles o editor aluga-lhes um quarto”. Depois de muitas peripécias que envolvem a morte de uma das senhoras o editor consegue chegar ao seu objectivo mas ser vítima de uma chantagem pois a sobrevivente das duas senhoras promete os manuscritos ao editor em troca de uma promessa de casamento.

 

Henry James (Nova York, 15 de abril de 1843 — Londres, 28 de fevereiro de 1916) foi um escritor norte-americano, naturalizado britânico em 1915. Uma das principais figuras do realismo na literatura do século XIX. Autor de alguns dosromances, contos e críticas literárias mais importantes da literatura de língua inglesa. Filho do teólogo Henry James Senior e irmão do médico, filósofo e psicólogo William James. Seu pai era um homem culto, filósofo, e fazia questão que os filhos recebessem uma ótima educação. Por isso viajou com a família para a Europa, em 1855, quando Henry tinha 12 anos, e durante três anos percorreram Inglaterra, Suíça e França, visitando museus, bibliotecas e teatros. Regressaram aos Estados Unidos em 1858, para viajar de novo a Genebra e Bonn no ano seguinte. Em 1860, já estavam de volta a Newport, onde Henry e William - o irmão mais velho que se tornaria psicólogo e filósofo - estudaram com o pintor William Morris Hunt.

Henry começou a carreira de direito em Harvard em 1862. Mais interessado na leitura de Balzac, Hawthorne e George Sande nas relações com intelectuais como Charles Eliot Norton e William Dean Howels, abandonou o direito para se dedicar à literatura. Seus primeiros textos e críticas apareceram em alguns jornais. No começo de 1869, foi à Inglaterra, Suíça, Itália e França, países que lhe forneceriam uma grande quantidade de material para suas obras. Regressou a Cambridge em 1875. Viveu um ano em Paris, onde conheceu o círculo de Flaubert (Daudet, Maupassant, Zola) e, em 1876, fixou-se em Londres, onde escreveu a maior parte de sua extensa obra.

A carreira literária de Henry James teve três etapas. A primeira foi na década de 1870, com "Roderick Hudson" (1876), "The American" (1877) e "Daisy Miller" (1879) e culminou com a publicação de "Retrato de uma Senhora", em 1881, cujo tema é o confronto entre o novo mundo com os valores do velho continente.

Na segunda etapa, James experimentou diversos temas e formas. De 1885 até 1890, escreveu três novelas de conteúdo político e social, "The Bostonians" (1886), "The Princess Casamassima" (1886) e "The Tragic Muse" (1889), histórias sobre reformadores e revolucionários que revelam a influência da corrente naturalista.

Nos anos 1890-1895, chamados "os anos dramáticos", James escreveu sete obras de teatro, das quais duas foram encenadas, com pouco êxito. James voltou à narrativa com "A Morte do Leão" (1894), "The Coxon Fund" (1894), "The Next Time" (1895), "What Maisie Knew" (1897) e "A volta do parafuso" (1898).

As obras "The Beast in the Jungle" (1903), "The Great Good Place" (1900) e "The Jolly Corner" (1909), fazem parte da última etapa do trabalho de James, considerada por muitos críticos[quem?] como a mais importante, quando o autor explora o complexo funcionamento da consciência humana. Sua prosa torna-se densa, com a sintaxe cada vez mais intrincada. Essas características definem as três grandes obras dessa etapa final, "As Asas da Pomba" (1902), "Os Embaixadores" (1903) e "A Taça de Ouro" (1904).

Além dos romances, relatos curtos e obras de teatro, o autor deixou inúmeros ensaios sobre viagens, críticas literárias, cartas, e três obras autobiográficas. Os últimos anos da sua vida transcorreram em absoluto isolamento na sua casa, que só deixou em 1904 para regressar brevemente aos Estados Unidos depois de 20 anos de ausência.

Em 1915, com a Primeira Guerra Mundial, James adotou a cidadania britânica. Morreu aos 72 anos, pouco depois de receber a Ordem do Mérito britânica. 

Henry James [1843-1916] escreveu ao contrário dos êxitos literários do seu tempo. Numa época de leitores a preferirem histórias com surpresas de percurso, pôs um grande talento de escritor ao serviço de uma corrente calma, discreta e a espalhar-se num extenso número de páginas, entravada por análises psicológicas de personagens distanciadas, na cultura e nos confortos, do homem mais comum nesse final do século XIX. E se o século seguinte o compreendeu como bom exemplo do construtor da obra de arte literária no mais nobre sentido que a expressão pode sugerir, a solicitar do leitor uma sensibilidade idêntica à exigida na apreciação de uma sonata ou de um quadro, durante a sua vida só teve êxitos pouco generosos e reticentes. […] Dir-se-á, porém, que este Henry James sofredor recebia com desdém o entusiasmo alheio pelas suas ficções, e via-o como resultado da cedência do texto ao que era um mais trivial gosto do público. Sentimo-lo encolher os ombros aos elogios que valorizavam The Turn of the Screw, e bem podia Oscar Wilde designá-lo como surpresa «enorme». Numa carta a H.G. Wells acusou o seu texto de «irresponsável» e de apenas ser «um pedaço de engenhosidade pura e simples». E quando publicou Os Manuscritos de Aspern, uma das suas ficções curtas mais brilhantes (para o seu biógrafo Leon Edel, a melhor de quantas escreveu), aos acidentais entusiasmos contrapôs esta água fria: «não passa de uma anedota»; verdade apenas de fundo porque Os Manuscritos de Aspern repensam e dão dimensões nostálgicas, amargas e perversas ao caso verídico que determinou a sua génese e em conversas de salão pôde ser contado com os picantes de uma anedota.

CRÍTICAS DE IMPRENSA

«James mostra-se absolutamente exemplar na forma como constrói o mecanismo da sua narrativa. O ritmo da prosa, a perfeição das frases, o desenho das personagens, a densidade do que é dito (e sobretudo do que não é dito, do que paira nas entrelinhas, implícito), nada fica aquém ou além da justa medida. Quanto a Veneza, nunca se resume a um pano de fundo. O narrador compara-a a uma esplêndida “habitação familiar, doméstica e sonora”, lugar “onde as vozes soam como nos corredores de uma casa” e “as criaturas humanas circulam a pé como se contornassem os ângulos de uma mobília”. Veneza é como os seus palácios lúgubres mas também como um teatro: “Se nos sentarmos numa gôndola, os passeios que em determinados pontos ladeiam os canais assumem ao nosso olhar a importância de um palco (…) porque as figuras venezianas, que andam de um lado para o outro contra o cenário muito gasto das suas pequenas casas de comédia, surgem como membros de um infindável grupo dramático.” Que esta peça de câmara termine em tom de tragédia menor, tão exacta quanto irónica, não espantará ninguém.» 
José Mário Silva, Expresso

No centro desta história, passada em Veneza, está um conjunto de manuscritos de um poeta de culto. Textos a que um editor pouco escrupuloso quer deitar a mão a qualquer preço. Esse editor é o narrador da história e ele próprio reconhece a sua falta de escrúpulos: «Tenho como único recurso a hipocrisia e a duplicidade. Lamento-o mas a pior do que isso estarei disposto por amor a Jeffrey Aspern».

A primeira parte da história narra o interesse quase doentio que a figura do editor nutre pelos “Aspern Papers”. O seu autor é um poeta de culto como já se disse e o editor possui aquele carácter de collecionador que deseja obter uma peça rara seja lá como for. Este seja lá cono for é de qualqer maneira no quadro das regras puritanas da época vitoriana e do cavalheirismo inglês.

A segunda parte narra a forma que o editor encontrou para se insinuar na entourage das duas senhoras e muito próximo do seus objectivos. “Os manuscritos pertencem a duas idosas e para se apoderar deles o editor aluga-lhes um quarto”. 

Depois de muitas peripécias que envolvem a morte de uma das senhoras o editor consegue chegar ao se objectivo mas ser vítima de uma chantagem pois a sobrevivente das duas senhoras promete ao editor  em troca de uma promessa de casamento a condição para que ele possa vir a ficar com os manuscritos.

Os Manuscritos de Aspern

▸ Os Manuscritos de Aspern

Autor:Henry, James

Editora:Systema Solar

Data de Publicação:2012